Estudo da USP sobre o território brasileiro pode ajudar os Estados Unidos com perigos de Yellowstone

Desenvolvido no Instituto de Geociências, tese investiga processos que deram origem a Província Ígnea do Paraná, análoga da americana onde está o parque de Yellowstone

O parque de Yellowstone, nos Estados Unidos, faz parte do Sistema Snake River (Foto: Divulgação/ National Park Service - U.S. Departament of the Interior)

Por Maria Beatriz Barros – mabi.barros.s@gmail.com

Estudos sobre a formação da Grande Província Ígnea do Paraná, desenvolvidos no Instituto de Geociências (IGc) da USP, podem ajudar os Estados Unidos a lidar com a “bomba-relógio” que tem em seu território: o sistema Snake River, onde está o Parque Yellowstone. Tamanha é a câmara magmática abaixo da área em questão que sua explosão devastaria boa parte da América do Norte. Devido às propriedades geológicas análogas, a análise do que aconteceu no Brasil há milhões de anos pode não só auxiliar os americanos, mas também outros países em situação similar a decifrar quais sinais são perigosos e lidar com eles.

“Se entendemos como o derramamento de magma funcionou no Brasil há milhões de anos, conseguimos pensar como poderiam funcionar outros sistemas análogos”, explica Letícia Guimarães, estudante de doutorado do professor Valdecir Janeci, do IGc. Sua pesquisa foca no vulcanismo ácido da Large Igneuos Province (LIP) do Paraná, a segunda maior província continental do mundo, fruto de um grande derramamento de lava imediatamente antes da separação do supercontinente Gondwana, que veio a formar a América do Sul e África.

No Brasil, o mapeamento geológico é bastante recente, muito por conta do país não ser palco de grandes eventos geológicos, como terremotos e vulcanismo. Todo o território do país está em cima de uma placa tectônica-fragmentos da crosta terrestre sobre os quais estão os mares e continentes-por isso é pouco atingido pelo movimento das mesmas, que origina os abalos sísmicos e erupções de vulcão. Mas, há milhões de anos, todos os continentes eram um, a Pangeia, que depois fragmentou-se em Laurásia e Gondwana, para então, pouco a pouco, assumir a configuração que conhecemos.

Países em cima do encontro de duas placas tectônicas, como os Estados Unidos e a Itália, por sua vez, estudam a geologia de seu território há séculos, e estão em constante monitoramento das atividades vulcânicas que lá ocorrem. “É um conjunto de estudos”, explica Letícia: “Elaboramos modelos científicos, acadêmicos, reproduzimos em laboratório o que aconteceu aqui no Brasil, e interpolamos o resultado com o monitoramento de um sistema ativo - o Snake River, por exemplo -, assim podemos tentar estimar como ele funciona.”

Vulcanismo ácido

A Grande Província Ígnea do Paraná é uma evidência de que naquele local houve um conduto de magma do manto a crosta terrestre. Entender como foi este extravasamento é essencial, então, para compreender a formação da estrutura geológica em questão e assim supor o processo que pode vir a acontecer em outros locais do mundo.

Segundo Letícia, existem dois motivos que podem levar a erupção de um vulcão: a ação de terremotos e a mistura de magma, a hipótese principal do que aconteceu na determinada região do Brasil. “Supomos que uma câmara magmática possui determinado volume de magma com propriedades particulares. Se, por algum motivo, há uma injeção de mais magma, ele será de outra composição, temperatura e quantidade de água, causando um desequilíbrio no sistema da câmara, que tende a provocar uma erupção”, explica a geóloga.

Visto que o evento aconteceu há milhões de anos, o processo sugerido é reproduzido em laboratório em diferentes condições, e suas respostas perante elas analisadas: “de modo geral, é possível se reproduzir em laboratório”, diz Letícia. No entanto, além da escala geográfica, a variação de tempo também influi -e muito -no resultado da experiência. “Estamos trabalhando em um período de tempo muito mais curto. Tal variável vai influenciar, por exemplo, na efetividade daquele processo. Para suprir essa lacuna, traçamos um paralelo entre, por exemplo, a LIP do Paraná e o Sistema Snake River, porque lá o sistema é ativo, explica ela. “É um trabalho colaborativo em escala global, nós damos informações para eles, e eles para nós.”

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