Pesquisa demonstra que personalidade do paciente influencia no tratamento em casos de estresse pós-traumático

Pessoas com traços de determinação e perseverança acentuados apresentam uma resposta mais favorável à terapia em comparação aos demais

Maioria das situações que serve de gatilho para aparecimento do transtorno envolve violência, abuso sexual ou verbal, agressão ou até a experiência de presenciar um episódio traumático vivido por outra pessoa. Foto: Fotolia/Reprodução

Por Letícia Fuentes – lepagliarini11@gmail.com

Defendida pela Faculdade de Medicina (FM) da USP, a dissertação de mestrado de Paula de Vitto tem como objetivo avaliar a influência dos traços de personalidade individuais no desempenho de pacientes com transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) ao realizar terapia cognitivo-comportamental (TCC). A pesquisa revelou que pessoas com traços de conscienciosidade, que corresponde à capacidade do indivíduo de persistir nas atividades que realiza, apresentam resultados melhores ao realizar o tratamento.

O TEPT é uma condição que normalmente se desenvolve no paciente após algum trauma. Segundo Paula, a maioria das situações que serve de gatilho para o surgimento do transtorno envolve violência, abuso sexual ou verbal, agressão ou até a experiência de presenciar um episódio traumático vivido por outra pessoa. O tratamento dessa condição geralmente é feito por meio da TCC, que trabalha diretamente o trauma, tentando fazer com que o paciente retorne à sua rotina anterior.

“Se o trauma acontece no ônibus, a pessoa geralmente começa a evitar andar de ônibus. Depois de um tempo, ela decide que não vai mais pegar metrô. Quando você vê, ela não está nem saindo de casa mais”, exemplifica Paula. “Na terapia, a gente vai pegar todas as situações que a pessoa tem evitado e vai tentar conseguir, de uma maneira estruturada, que aquele paciente retorne a fazer as coisas aos poucos.” A pesquisadora afirma que junto a esse trabalho, a terapia busca exercitar as cognições, explicando que o trauma vivido foi uma situação única e não necessariamente vai voltar a se repetir.

Metodologia

Para fazer o estudo, Paula conta que partiu de dois questionamentos iniciais: qual é o perfil dos pacientes que desenvolvem o transtorno e qual é o perfil de personalidade que favorecia a melhora por meio da terapia? A pesquisadora avaliou 66 pacientes diagnosticados com TEPT, todos com idade entre 18 e 60 anos, medindo os traços de personalidade de cada um e comparando ao desempenho dos participantes durante a TCC. Com os resultados em mãos, Paula percebeu que ao avaliar as características do grupo em geral, a maioria dos pacientes apresenta neuroticismo alto. “Esse é um traço de personalidade no qual a pessoa vivencia sentimentos negativos com muita intensidade. Então, são aquelas pessoas ansiosas, impulsivas, que sentem muita raiva”, explica. “O que a gente não consegue saber é se elas já tinham essas características antes do trauma ou se elas desenvolveram depois, como uma resposta ao ocorrido. Nós achamos que é um pouco dos dois, pois a personalidade não é uma coisa que muda tão fácil de uma hora para a outra”, complementa. “Ela muda, mas não é radicalmente. Então, a gente imagina que eram pessoas que já tinham um grau de neuroticismo e que piorou com um trauma.”

Além do neuroticismo, Paula destaca que os pacientes avaliados também apresentavam traços de extroversão e conscienciosidade baixos. Segundo ela, são pessoas mais fechadas, distantes e que não gostam de manter relações sociais, “Isso atrapalha muito, porque a pessoa acaba não procurando ajuda externa e permanece presa à doença”, diz. “Já a conscienciosidade é um traço que diz respeito ao quanto você está disponível para fazer as coisas acontecerem. Esses pacientes são pessoas que não têm muitos objetivos, não conseguem manter uma regra, não seguem as coisas até o final.” Os participantes que apresentavam um progresso mais expressivo com a TCC e respondiam melhor ao tratamento eram aqueles que apresentavam pontuações mais elevadas nesses traços, principalmente na conscienciosidade.

Como conta a pesquisadora, é frequente encontrar pacientes que passam anos com a doença e não sabem o que têm. “Peguei vários pacientes que estavam doentes sem saber, que não tinham noção do que fazer e estavam sem trabalhar até, porque ficaram totalmente incapacitados”, comenta. “Se você conhecer o perfil de personalidade de cada paciente, você consegue propor um tratamento mais adequado. Saber quais traços ele tem mais fortes é importante para otimizar suas chances de sucesso.”

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