USP propõe estratégias de conservação do litoral norte

Antes em risco por conta da exploração de pau-brasil, hoje a Mata Atlântica é alvo de especulação imobiliária e crime ambiental

Cachoeira do Tobogã, localizada em Bertioga (Foto: Divulgação/ Fundação para Conservação e Produção Florestal do Estado de São Paulo)

Por Maria Beatriz Barros – mabi.barros.s@gmail.com

O litoral norte do estado de São Paulo abriga importante remanescente da Mata Atlântica, e com ela vasta diversidade biológica e geológica. Por meio de estudos em campo e da sociedade em torno do território, o Núcleo de Apoio a Pesquisa GeoHereditas ― programa de pós-graduação do Instituto de Geociências (IGc) da USP ― busca definir e aplicar estratégias de geoconservação no local a fim de preservar aspectos geológicos que muito podem dizer sobre a evolução da Terra.

Enquanto colônia de Portugal, o Brasil teve muitas de suas riquezas naturais saqueadas à beira da extinção, dentre elas a Mata Atlântica. O difícil acesso a Serra do Mar ― litoral norte de São Paulo ― resguardou um corredor considerável da vegetação, transformado pelo Estado no Parque Estadual da Serra do Mar com objetivo de preservar a diversidade do território. No entanto, fatores da sociedade contemporânea colocam, mais uma vez, a floresta e toda sua estrutura em risco.

“A beleza natural da região atrai muitos investidores da área imobiliária e turística”, explica Eliana Mazzucato, estudante de mestrado do IGc, orientada pela professora Denise De La Corte Bacci. A pressão urbana, a especulação imobiliária, ocupação de encostas e das áreas de risco, infraestrutura precária, turismo de massa e recorrência de crimes ambientais são outros fatores citados como ameaça à natureza.

Além da variada fauna e flora, o litoral norte também abriga uma série de valores de natureza abiótica (não vivos, como rochas, o solo, água, atmosfera, entre outros). Segundo Eliana: “ a partir desses materiais é possível interpretar a evolução geológica da terra. Portanto, eles consistem em testemunhos dessa história geológica e auxiliam na pesquisa científica e na previsão de fenômenos relacionados às Ciências da Terra”.

Contudo, a geoconservação é mais difícil quando aplicada a produtos abióticos, por conta do desconhecimento da população, em geral, sobre o tema. “É uma situação adversa ao que ocorre com a biodiversidade, que já é tradicionalmente divulgada no ensino e em outros meios de educação, o que acaba sensibilizando a população quanto à sua conservação. Ainda, do ponto de vista normativo, as leis relacionadas à preservação da natureza, como o Código Florestal e o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, estão mais orientados para a conservação da biodiversidade”, conta a geóloga.

Estratégias de Geoconservação

A geoconservação parte de dois aspectos: reconhecimento da geodiversidade e do patrimônio geológico do ponto de vista científico e definição de estratégias específicas a ele. “A divulgação e valorização do patrimônio geológico são importantes elementos para sua conservação”, ressalta Eliana. “Ela tem maior respaldo junto a uma sociedade que reconhece qual o valor ou a importância de determinado elemento e o porquê de sua conservação”

A pesquisadora desenvolve de estratégias junto a população população do litoral norte do estado de São Paulo,  embasadas pela relação de identificação e pertencimento da comunidade com os aspectos que se quer conservar. “As estratégias têm seguido os caminhos da educação e do diálogo, corroborando com a importância da participação destes grupos para a conservação. Existem diversos caminhos a serem percorridos, no âmbito normativo e institucional, questões de infraestrutura, de educação e de mudança de postura diante a geodiversidade, dentre outros”, termina.

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