Estudos de grãos de pólen auxiliam a desvendar grandes mudanças climáticas e vegetais

Desenvolvida pela Universidade de São Paulo, pesquisa investiga formação da Caatinga e ocupações humanas primitivas

A Caatinga brasileira, onde predomina o clima semiárido (Foto: Reprodução/ Dinâmica Ambiental)

Por Maria Beatriz Barros – mabi.barros.s@gmail.com

A palinologia — estudo de grãos de pólen e esporos de plantas encontrados em sedimentos de lagos e bacias sedimentares — é das principais ferramentas para estudar grandes mudanças climáticas e vegetacionais ocorridas no Brasil desde a Era Glacial. Estudos do Instituto de Geociências (IGc) da USP buscam, por meio deste método, detalhar a diminuição da umidade no Nordeste Brasileiro durante os últimos 10.000 anos, seguida pela instalação de condições climáticas semi-áridas, técnica também é aplicada para estudar as ocupações primitivas na Serra da Capivara e no Xingu.

Rudney de Almeida, doutorando em paleontologia do professor Paulo Eduardo De Oliveira, detalha a técnica: “Os estudos palinológicos podem contribuir com informações para um variado leque de domínios científicos como taxonomia, estudos genéticos e evolutivos, melissopalinologia (estudo do conteúdo polínico no mel), ciências forenses, reconstruções paleovegetacionais e paleoclimáticas, correlação de depósitos e atribuição de idades, assim como o estudo do impacto do Homem na vegetação do passado”.

Uma vez encontrados e coletados os grãos de pólen, esses são comparados aos de espécies atuais, a fim de extrair interpretações sobre como se deram mudanças vegetais e climáticas no passado. “A Amazônia passou um período de grande umidade entre 18 mil e 15.000 anos atrás, seguido de fase de menor umidade que durou até cerca de 13 mil anos atrás. Nos últimos 10.000 anos para o nordeste a umidade diminui gradualmente e provavelmente por volta dos 4,2 mil anos atrás o clima semi-árido se instala formando a Caatinga moderna”, explica Almeida.

Ocupações Humanas na Serra da Capivara e no Xingu

Junto à palinologia, para estudar as ocupações humanas na Serra da Capivara (PI) e no Xingu (PA), Rudney de Almeida analisa partículas carbonizadas furto de incêndios naturais e/ou antrópicos, também depositadas sob o solo. Através do tamanho e forma dessas partículas carbonizadas é possível sugerir se o incêndio é local ou regional. “Muitas das migrações ou troca de populações ocorridas na região confirmam grandes variações climáticas e vegetacionais, e podem estar relacionadas a falta de recursos naturais”, explica o pesquisador.

Imagem aérea do Parque da Serra da Capivara (Foto: Reprodução/ Arquivo FUMDHAM)

Em particular, o estudo desenvolvido na Serra da Capivara investiga o desaparecimento de grandes mamíferos, como o Mastodonte (Haplomastodon waringi), preguiça gigante (Eremotherium lundi) e o Tatu gigante (Gliptodon clavipes), que um dia habitaram a região. Já o Xingu pede análises aprofundadas por conta da instalação da usina hidrelétrica de Belo Monte, cujos possíveis impactos ambientais são temidos pelos especialistas e população local.

“Na Volta Grande do Rio Xingu possui ocorrências de espécies animais que só ocorrem na região (endêmicos) e a história paleoambiental da desta área ainda não é bem conhecida. Portanto, a obtenção desses registros ajudarão a documentar a história pré-impacto, assim podendo estabelecer o grau de danos estão sendo causados no ambiente”, explica Almeida.

Usina de Belo Monte, locada na bacia do Rio Xingu (Foto: Oswaldo de Lima/ Norte Energia S.A)

 

 

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