Grupo de pesquisa na EACH procura compreender formação da pele e criar tecido sintético

Uso de células-tronco do cordão umbilical leva vantagem sobre outros tipos por não levantar dilemas éticos

Uso do tecido umbilical é mais racional e econômico. Foto: youtube.com/Reprodução

Por José Paulo Mendes – jpmendesg13@gmail.com

As pesquisas com células-tronco, sobretudo as embrionárias, são um dos temas em que ciência mais entra em conflito com setores da sociedade civil. Porém, um estudo da EACH tem feito uso de outro tipo de células-tronco, as do cordão umbilical, para estudar a pele humana e as camadas que a formam, assim como sua diferenciação para entender melhor esses processos e até, a longo prazo, tratar doenças.

“A célula-tronco é uma célula que tem a capacidade de gerar distintos tipos celulares e possuem uma capacidade de auto renovação muito elevada, ou seja, é uma célula que pode se dividir muitas vezes. Em muitos casos, se amelha até com uma célula tumoral”, explica Viviane Abreu Nunes, responsável pelo projeto. “Todos os nosso órgão e tecidos tem seu próprio estoque de células-tronco, justamente para repor aquelas células que vão se perdendo ao longo da vida.

“As células-tronco do cordão umbilical são de especial importância para nós porque são células de fácil obtenção e seriam descartadas após o parto. Além disso, a coleta ainda envolve um procedimento muito simples e indolor. Não há nenhuma questão ética envolvida, diferente das embrionárias ou da medula óssea.”

O trabalho deriva originalmente de um interesse do grupo de estudos da professora Viviane Abreu Nunes de compreender o processo de diferenciação das células do cordão umbilical em diversos tipos celulares. A princípio a ideia era de se trabalhar com tecidos musculares. No entanto após o contato com outros núcleos de pesquisa da própria EACH, a ênfase na compreensão diferenciação das células da pele ganhou espaço e se consolidou como ponto forte do empreendimento acadêmico.

A pele humana é composta fundamentalmente por três camadas: a tela subcutânea, a derme e a epiderme, esta formada por queratinócitos que constantemente se renovam e se diferenciam. Porém, saber como ocorria essa formação e diferenciação das camadas era o grande desafio da pesquisa, uma vez que as células-tronco da pele são de difícil estudo e isolamento complicado.

O uso do tecido umbilical, que provavelmente seria descartado, é mais racional e econômico tanto em questão de tempo quanto de recursos. Depois de recolhidas as células foi possível, por meio de processos laboratoriais, comprovar o potencial dessas células-tronco e induzi-las a se diferenciarem nas variadas camadas da pele, o que foi comprovado após o teste de marcadores específicos e expressões de proteínas.

Com essa informações em mãos, foi possível haver a iniciativa de tentar se produzir uma pele artificial ― processo que ainda se encontra em fase de desenvolvimento em parceria com outros grupos. A utilização de células-tronco do cordão umbilical para isso é um dos grande diferenciais do estudo. Segundo Viviane, com apenas dez mil amostras seria possível ter compatibilidade com toda a população brasileira.

“Não é nenhuma novidade haver grupos tentando produzir peles artificiais. Mas ainda estamos trabalhando com a reconstituição da epiderme in vitro a partir de célula-tronco. A novidade é que estamos fazendo isso a partir de uma célula que seria descartada. Essas células também são menos imunoreativas e causam menor rejeição, o que seria uma vantagem em relação a células de outros tecidos”, afirma.

Até o momento, os esforços da pesquisa foram empregados em estudar os processos de diferenciação da pele e entender também como algumas patologia, como a psoríase, acontecem em meio a isso. Porém, o objetivo final é a produção de culturas de pele para serem uma nova opção da medicina no futuro.

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