Laboratório da USP ajuda a prever fenômenos meteorológicos

A partir de radares e satélites, pesquisadores detectam indícios do clima para amenizar consequências de eventos meteorológicos severos

Em cidades grandes, como São Paulo, prever o clima pode auxiliar nos problemas de trânsito ou falta de água. Imagem: Wikimedia Commons

Num contexto de mudanças climáticas e alterações na natureza, os fenômenos meteorológicos costumam nos pegar de surpresa. Em cidades grandes, como São Paulo, prever o clima pode auxiliar nos problemas de trânsito ou falta de água, por exemplo. O Laboratório de Hidrometeorologia do IAG-USP busca antecipar as autoridades públicas e melhor compreender o clima paulistano, sendo responsável pela obtenção e interpretação de informações relacionadas ao tempo.

Segundo explica o professor Augusto José Pereira Filho, coordenador do Laboratório, as informações sobre tempo e chuva são captadas de diversas estações meteorológicas espalhadas pela capital paulista e seus entornos. “Usamos registros de vários radares instalados em São Paulo: no Parque do Estado, na USP Leste e na cidade de Valinhos, entre outros”, conta Pereira.

Os radares são os instrumentos mais utilizados nas estações meteorológicas. Visualmente similares a grandes antenas parabólicas, eles enviam ondas eletromagnéticas até as nuvens e, do mesmo modo, recebem essas ondas. “De acordo com as variações percebidas no comportamento das ondas, é possível quantificar a chuva e sua distribuição espacial, além de conhecer o tamanho e distribuição de gotículas, gotas, cristais de gelo, neve e outras variáveis como as correntes de ar dentro das nuvens e tempestades”, explica o professor.

Radares do laboratório captam informações meteorológicas. AUN/João Victor Escovar

As informações são colhidas em tempo real e passadas para um modelo numérico, que indica visualmente a situação do tempo futuro, através de imagens e animações, possibilitando o monitoramento e evolução do tempo durante o dia. “Ao monitorar o clima, podemos alertar órgãos públicos, como a Defesa Civil, das possíveis consequências que estão por vir, como transtornos causados por tempestades ou chuvas de granizo”, destaca Pereira.

Aplicação

A proteção civil consiste em evitar ou amenizar os prejuízos humanos e econômicos causados por fenômenos naturais, como as chuvas, cujas consequências são muitas, como deslizamentos de terra, alagamentos ou inundações, que provocam caos no trânsito, acidentes, perda de bens materiais e mortes. Contudo, não é a única área de atuação da meteorologia.

Conforme lembra o professor, o tempo e o clima estão extremamente ligados a várias questões, como a saúde pública. Baixas temperaturas e precipitações, combinadas com um ar seco, provocam e agravam inúmeras doenças respiratórias. Enchentes, por sua vez, prejudicam o sistema de esgoto e podem facilitar a transmissão de leptospirose, por exemplo. Já a dengue surge num contexto úmido com temperaturas acima de 20ºC. Nesse sentido, a meteorologia serve de precaução para os agentes de saúde, que devem se planejar para enfrentar surtos de doenças da melhor maneira possível.

Acompanhamento das chuvas por radares, no estado de São Paulo. Imagem: Laboratório de Hidrometeorologia IAG-USP

A meteorologia também atua no monitoramento do clima a longo prazo, como na questão do abastecimento de água. A região metropolitana de São Paulo sofreu uma de suas piores crises hídricas da história no ano de 2014, da qual ainda não se recuperou completamente. Os índices de chuvas nas regiões que abastecem a metrópole foram baixíssimos, o que reduziu drasticamente os níveis dos reservatórios e forçou o uso do chamado “volume morto”, águas concentradas abaixo dos reservatórios e de qualidade contestável. Para o professor Pereira, faltou atenção às previsões, já que os prognósticos climáticos indicavam condições quentes e secas. “Na crise de 2014, a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) poderia ter melhorado o planejado da gestão da crise hídrica com prognósticos mais específicos e especializados”, argumenta.

Crenças populares

 Apesar de toda sua importância, a meteorologia ainda é alvo de muito deboche do imaginário popular, em virtude dos “erros” que às vezes comete, como prever um dia chuvoso e se deparar com um ensolarado.

Para o professor Augusto, esse tipo de pensamento reflete um desconhecimento do que é a ciência meteorológica. “Trabalhamos com dados e informações a partir de alta tecnologia de satélites ambientais e supercomputadores. Esse trabalho, bem fundamentado em física, matemática e computação de fenômenos naturais, não é um mero ‘chute’”, defende-se. “A previsão do tempo é dada por modelos numéricos que evoluíram muito nas últimas décadas, mas ainda estão muito aquém de representar a complexidade do sistema terrestre. São boas aproximações limitadas a uma ou duas semanas de previsão à frente. Contudo, a meteorologia trabalha para evoluir esses modelos por meio de mais e melhores plataformas de medição e representações”, indica.

Além disso, existem diversos fatores que contribuem para a aleatoriedade do clima, que muitas vezes não são dimensionados, como interferência de ventos, oceanos e rotação da Terra. “A complexidade do sistema terrestre impede que o homem tenha um pleno domínio sobre todas as variáveis que deveriam ser incluídas”.

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