Pesquisa arqueológica descobre inéditas sepulturas em cinzas no Sudeste de Minas Gerais

Sepulturas número 34 e 37, exumadas em 2014. Crédito: Andre Strauss

Inusitados sepultamentos sobre cinzas foram encontrados nas proximidades da cidade de Lagoa Santa, em Minas Gerais. Essa descoberta revela hábitos sociais complexos dos habitantes pré-históricos do período Holoceno e levanta novas perguntas sobre a complexidade das populações caçadoras-coletoras americanas.

Em destaque no mapa, o município de Lagoa Santa

O Sudeste de Minas Gerais é uma região repleta de sítios arqueológicos, que contêm vestígios dos habitantes pré-históricos das Américas. Dentre esses sítios, na região da cidade Lagoa Santa, o sítio de Lapa do Santo se destacou pela presença de mais de trinta sepulturas de populações do Holoceno, o período que começa depois do último período glacial (11.000 a.C) e se estende até agora. A partir do estudo desses sepultamentos, foram identificados três tipos de ritos fúnebres, dentre eles, o sepultamento sobre camadas de cinzas.

A professora do MAE Ximena Villagran, doutora em Arqueologia Pré-Histórica pela Universidad Autónoma de Barcelona e em Geociências pela Universidade de São Paulo, em uma  pesquisa conjunta com Andre Strauss, Christopher Miller, Bertand Ligouis, e Rodrigo de Oliveira, fez uma análise arqueológica micro morfológica do sítio arqueológico de Lapa do Santo a fim de mapear os processos de formação sedimentar da área. Villagran explica que os estudos micro contextuais são técnicas de microscopia que permitem o entendimento do que se passou, geologicamente, em determinada localidade, “A micromorfologia é uma técnica de alta resolução para entender o processo de formação do sítio”. O método consiste em coletar amostras de terrenos em cortes transversais, ou seja, deixando as camadas de solo visíveis; fazer lâminas impregnando resina e colocá-las no microscópio. O objetivo, segundo Villagran, é complementar as descobertas já feitas em Lapa do Santo. “Ao observar esses sedimentos no microscópio, podemos ver todos os seus componentes e a maneira que se relacionam. Isso permite interpretar processos”, completa a pesquisadora.

Respectivamente, imagem de amostra do sítio; fotomicrografia dessa mesma amostra, os pontos laranja são fragmentos de osso de peixe, em uma matriz cinzenta feita de cristais de cinzas, misturada com agregados de argila vermelha. Os espaços em branco na imagem correspondem a poros nos sedimentos; a terceira imagem é a fotomicrografia das cinzas, pequenos cristais de pseudomorfos de oxalato de cálcio em calcita. Fotos: Ximena Villagran

Usando esse método, foi possível identificar não somente o material incomum dos sepultamentos, as cinzas, mas também sua composição de madeira semi-apodrecida, identificada por meio da técnica de petrografia orgânica,. Além disso, detectou-se a presença de fogueiras ao lado das covas e de fragmentos de cupinzeiro no material microscópico sedimentar entre as cinzas. As motivações para a presença desses elementos estão sendo pesquisadas.

Os resultados do estudo estão publicados no Journal of Archeological Science, edição de janeiro de 2017. Buried in ashes: Site formation processes at Lapa do Santo rockshelter, east-central Brazil.

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