Pesquisa busca entender o comportamento tumoral

Professora do ICB coordena projeto para entender os efeitos tumorais sobre o sistema imune

Papilomavírus humano (fonte: http://conselhodemulher.com/wp-content/uploads/2015/12/HPV-sintomas.jpg)

Uma pesquisa que está sendo realizada pelo Instituto de Ciências Biomédicas da USP busca entender a relação estabelecidas entre células tumorais e inflamatórias e efeitos sistêmicos no corpo humano. De acordo com a professora responsável pelo laboratório, Ana Paula Lepique, o objetivo é esclarecer como funcionam as interações entre diferentes tipos de lesões e tumores com os sistemas humanos e, assim, encontrar o tratamento terapêutico mais adequado para cada caso.

“Uma célula tumoral é uma célula própria que sofre alterações genéticas ou é transformada por processos iniciados por um vírus e infecções, como o papilomavírus humano”, explica a professora. “Isso gera uma célula com capacidade de replicação, podendo crescer de forma descontrolada e por tempo indeterminado, e, se for câncer, ela tem capacidade de invadir outros tecidos”. De acordo ainda com a professora, as células tumorais são capazes de utilizar recursos do organismo para poder crescer. Entre esses recursos, podem ser utilizadas as células do sistema imune, responsável por respostas contra agentes externos, sendo responsável também pelo controle de respostas inflamatórias do organismo.

Um dos principais focos de estudo do Laboratório de Imunomodulação é entender a relação entre o tumor e as células do sistema imune. Dando foco às lesões causadas pelo HPV, os pesquisadores perceberam que ocorre uma correlação negativa entre as células imunes linfócitos T e os neutrófilos nas lesões da cérvice uterina. “Sabe-se que a resposta dos linfócitos T é muito importante para conter essas lesões”, afirma Ana Paula,reforçando a ideia de que a atividade dos neutrófilos no tumor impede a atuação dos linfócitos. O tumor seria capaz de controlar o fenótipo, que é a manifestação visível de uma característica genética, e a atividade dos neutrófilos, inibindo as células T e permitindo ao tumor escapar a elas e se desenvolver seguramente. Essa relação também ocorre entre dois tipos de células chamadas macrófagos, M1, muito boa para ativar a ação dos linfócitos, e a M2, não tão boa para ativar a mesma resposta e que se encontra em maior presença em lesões e tumores.

Com base nas observações acima, o laboratório busca entender como o tumor influencia a transmissão de sinais para a ativação das células. “Nossa proposta, quando começamos esses projetos, foi pensar nas vias de sinalização que são importantes em câncer e resposta imune”, esclarece a professora. O estudo, então, se voltaria a identificar quais moléculas da célula tumoral reconhecem os receptores celulares e afetam as vias de ativação das células do organismo, criando reações pro-tumorais no lugar de antitumorais. “Se souber se essas vias estão ou não ativadas, aí sim vale a pena interferir farmacologicamente. Se não souber o que está ativado e o que está inibido, como que vou interferir? ”

O principal objetivo da pesquisa é a geração de oportunidades terapêuticas. Sobre o estudo do câncer causado por HPV, Ana Paula afirma que este é um ótimo exemplo para estudar a imunologia tumoral, por se tratar de um câncer associado a um vírus, o que permite o estudo das respostas associadas ao vírus. “Esses vírus ainda infectam 30% da população jovem, causando câncer de colo uterino, de pênis, de orofaringe. Mesmo com a existência de vacinas contra o HPV, ainda é uma questão de saúde pública relevante”. A pesquisa se volta para fornecer esse tratamento terapêutico a pessoas com câncer, visando, assim, a diminuição da incidência de pacientes com esse vírus pelo Brasil. “O objetivo desse laboratório é pensar em formas de interferir nesse microambiente tumoral, nesses efeitos que o tumor causa no sistema imune, pensando sempre que ‘talvez eu tenha uma ferramenta, talvez eu consiga associar alguma coisa com a quimioterapia, a radioterapia, a cirurgia, para melhorar o prognóstico e a resposta dos pacientes’ “.

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