Pesquisa aponta conectividade entre manguezais do litoral paulista

Manguezal localizado no litoral paulista. Foto: Paola Sanches

Com o objetivo de entender a relação entre os mangues e precaver desastres ambientais causados por ações humanas, o Instituto de Oceanografia da Universidade de São Paulo (IO-USP) está desenvolvendo uma pesquisa sobre a conectividade destes ecossistemas na região da Baía do Araçá, São Sebastião, São Paulo.

Dos que restaram, cerca de 15% de todos manguezais do mundo estão localizados em território nacional. Situados na região costeira entre os estados do Amapá e Santa Catarina, esse ecossistema possui grande importância biológica e geográfica ao meio ambiente. No entanto, ações antrópicas permanecem ameaçando o ecossistema brasileiro, alertando ambientalistas e pesquisadores.

“Conectividade é a forma de entender processos dispersivos”, afirma Paola Sanches, doutoranda da Universidade. Em linhas gerais, a pesquisa busca desvendar de que maneira o manguezal do litoral paulista se relaciona com os outros desta região costeira. Desta forma, caso haja um evento desastroso que destrua um dos mangues, é possível descobrir se haverá uma recuperação de forma natural ou se a intervenção humana será necessária.

“Partindo do pressuposto que aconteça uma catástrofe e sua recolonização venha a ocorrer naturalmente, é necessário antever de onde virão esses organismos. A conectividade nos ajuda a entender que, para preservar um manguezal central, os outros adjacentes devem ser protegidos também, garantindo que a população possa ser restituída, recuperada e fortalecida.”, explica a pesquisadora.

Linhas de pesquisa
O estudo baseia-se em duas vertentes: conectividade a partir da genética e da modelagem de dispersão. No primeiro deles, Paola e sua equipe recolhem amostras de indivíduos dos diferentes mangues para compará-las. Caso haja uma grande variação é possível concluir que, durante os processos reprodutivos, não está havendo uma troca considerável de genes, ou seja, essas populações estão mais isoladas. Por outro lado, se não há uma divergência genética considerável entre essas, temos um indicativo que estão ocorrendo “misturas” durante os ciclos reprodutivos, representando conectividade entre as áreas.

“Caso ocorram processos de degradação, essa relação garante, em grande parte, que uma área assegure a outra ao longo dos anos. Em termos de conservação, o ideal é que tenhamos tudo muito bem conectado. No entanto, ser isolado não é de todo ruim, pois graças ao isolamento, tivemos processos evolutivos ao longo de milhares de anos”, pontua.

Outra forma de medir esse vínculo pertence ao ramo da oceanografia física. Levando em consideração as correntes marítimas, os pesquisadores dispersam partículas em simulações para mapear, por meio de satélites, a probabilidade do elemento sair de um ponto e chegar ao seguinte. Isto posto, é possível avaliar a direção da conectividade, as áreas “doadoras” de indivíduos (source) e aquelas que mais recebem (sink) e, assim, concluir quais regiões são biologicamente mais relevantes ao foco de conservação.

Além de uma relação ambígua: os steppings stones
Steppings stones são pedras que ficam imersas na água e servem para atravessar rios e lagoas. No aspecto das conectividades, entre ecossistemas, o termo é usado para denominar regiões que participam da conectividade como “trampolins”, ou seja, indivíduos passam por aquele manguezal antes de chegar ao destino final.

Seguindo hipóteses, Paola acredita que a região do Araçá é um importante stepping stone para relação dos mangues situados em Bertioga, Ubatuba e outras regiões costeiras. “Caso se confirme, é preciso conservá-la e descobrir quais outros locais devem ser protegidos para manter esse fluxo biológico em segurança, já que os steppings stones são essenciais para manter linhas de conectividades entre áreas mais afastadas.”

A importância
Os manguezais servem de berçário, locais de desova e forrageio de animais que vivem no próprio mangue, em restingas próximas, costões rochosos e do mar em si. Geograficamente, sua importância deve-se à proteção da linha de costa, das praias e dos estuários. Com a presença de grandes raízes e sedimentação própria, o mangrove acaba servindo como uma barreira a processos erosivos.

Além disso, há a questão da ciclagem de nutrientes. Muitas substâncias acabam sendo formadas a partir do processo de degradação que sofrem naturalmente nos manguezais. Isso torna a região muito rica, permitindo que organismos se multipliquem naquela área, aumentando serviços como a pesca e gerando uma importância social e econômica para as comunidades dependentes do mangue.

“Caso o manguezal seja suprimido o que era lodo, vira areia. Quando isso ocorre, as árvores de mangue não conseguem mais se colocar e tudo acaba erodindo, tendo outra dinâmica e ficando mais suscetível a desabamentos”, comenta Paola.

Com a deterioração, toda dinâmica costeira daquela região é alterada. Teremos um aporte de terra e sedimentação muito maior na faixa do mar localizada na frente do estuário, diminuindo a visibilidade e iluminação incidente do ambiente. Desta maneira, a fotossíntese e produção primária são afetadas, prejudicando uma cadeia trófica estabelecida há milhões de anos e iniciando um efeito dominó, com consequências em diversos outros ambientes.

1 Comentário

  1. Boa noite!
    Parabéns pelo trabalho que esta sendo desenvolvido. Vale ressaltar que seria muito importante um levantamento sobre o manguezal da região norte de são sebastião situado entre os bairros canto do mar e enseada. Pois o mesmo está cada dia mais degradado.

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