Pesquisadora da USP estuda grupos da sociedade civil que atuam pela paz no conflito israelo-palestino

Créditos: site Times for Israel

Para a sua tese de mestrado, a jornalista Eliceli Katia Bonan viajou, de dezembro até março desse ano, até a Palestina para conversar com grupos da sociedade civil que por meio do diálogo tentam caminhar para a resolução do conflito.

Hospedada em uma região de fronteira entre o lado oriental (palestino) e ocidental (israelense) em Belém, próximo da divida de Jerusalém, a pesquisadora presenciava o quanto o conflito ainda é paupável, embora não receba tanta atenção midiática no momento . Quase todos os dias, ouvia os sons de bala de borracha eclodindo embaixo da da janela de seu quarto, como relata Eliceli em entrevista a Agência Universitária de Notícias.

Como pesquisadora suas experiências eram limitadas e privilegiadas dentro de uma região em conflito, mas conta que buscou vivenciar o máximo, inclusive a prática de atravessar uma fronteira com um grupo de palestinos, sendo cerceados pela polícia israelense.

Durante sua estadia, Eliceli acompanhou o trabalho e realizou entrevistas de organizações e ONGS que promovem o diálogo visando mudar o status do histórico conflito entre Israel e Palestina.  A vontade de estudar esse assunto, veio da constatação que os acordos de paz, como o de Oslo e o de Camp David foram um fracasso na tentativa de resolução de um conflito longo. Em medida, porque os grupos sociais não são alheios ao ambiente político que os cerca, como também podem influenciá-los.

Sendo um dos conflitos mais complexos do último século, com cerca de 70 anos de duração, a eclosão da 2ª Intifada (rebelião popular) pós tentativa de acordos de paz marca uma falência da diplomacia oficial. De modo em que a “diplomacia cidadã” parece ser a única saída, afirma a pesquisadora.

Parte da naturalização do conflito está no fato de olhar o outro como inimigo, de negar, inclusive,  mutuamente, o reconhecimento e até o direito a uma existência coletiva. Nesse cenário político de ausência de diálogos oficiais, os não oficiais tornam-se a principal ferramenta para a busca pela paz. Grupos como Peace Now e School of Peace Neve Shalom que foram alguns dos primeiros a tentarem promover encontros e diálogos entre israelenses e palestinos desde da década de 90, continuam apostando na comunicação inter-étnica, inter-religiosos e transcultural entre os disputantes do conflito.

 

Esses grupos, no entanto, não encontram mais um ambiente propício ao diálogo e empatia como era na década de 90. Israel e Palestina vivem em um momento de retrocesso onde parece não haver disposição para a paz, afirma a pesquisadora. Do lado israelense o conflito parece ser inexistente e do lado palestino, há a crença que só a violência é capaz de acabar com essa normalização. Assim, nos últimos anos esses grupos, apesar de crescerem em número se veem enfraquecidos devido às circunstâncias externas, levando-os a se sentirem inúteis em contexto de maior violência.

As organizações da sociedade civil que tentam promover diálogo e esforços para a paz entre os dois lados, hoje, lidam com o crescimento de grupos de “anti-normalização” por parte dos palestinos. O chamado Boycott, Divestment and Sanctions (BDS) é exemplo do movimento no qual os palestinos não devem cooperar com os israelenses até o fim da ocupação na Cisjordânia. Enquanto isso, a população em Israel é pouco afetada pela anti-normalização ou pelo boicote. Mas fecha-se qualquer ensejo à diálogo.

A sua tese, portanto, foca principalmente nos desafios que essas iniciativas da sociedade civil tem enfrentado nos últimos 15 anos para criar e manter espaços de diálogos entre israelenses e palestinos. Considerando “diálogo é uma forma construtiva de lidar com conflitos. É um exercício colaborativo, em que dois ou mais lados trabalham juntos em busca de entendimento comum” conforme afirma a pesquisadora Eliceli.  

Segundo Eliceli, o diálogo com o “outro” tende a romper a dinâmica de uma identidade nacional baseada e determinada por base em um conflito político, ético e religioso, no qual o inimigo é demonizado diante da heroificação da sua identidade. Esse processo é capaz de construir e desconstruir as percepções do outro, de modo a explicitar as semelhanças e gerar empatia por aqueles tidos como inimigos resulta-se, assim, em mudanças na realidade social e política historicamente construída.

 

 

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