Do céu ao mar: O aquecimento global visto do espaço

Foto: Timo Lieber Photography

Ao fim da década de 1970, o uso de satélites para estudos oceanográficos revolucionou a maneira como o oceano era visto. Com grande resolução e alta tecnologia, atualmente, a partir destes equipamentos em órbita, conseguimos calcular quase que diariamente bases globais marítimas como temperatura, altura, nível de clorofila, ventos e a rugosidade da superfície marítima. Tantas informações colaboraram para formação de um enorme banco de dados acerca do tema o Big Data mundial da oceanografia física.

“O grande conjunto de informações adquiridas nos leva a pensar sobre tecnologias seguras de armazenamentos e formas de transmissão dos dados aos cientistas”, comenta o professor Paulo Polito, do Instituto Oceanográfico da USP. “A grande maioria destes materiais são de censo público, logo, qualquer pessoa que tiver interesse e capacidade técnica para lidar com o assunto, têm esse acesso. Assim, pode-se refazer os estudos, questionar teorias e construir algo inovador, até mesmo de casa, tendo como equipamento essencial um bom computador”.

Com tanto conteúdo em produção e comparação, diversos estudos emergem dos dados obtidos via satélite, dentre eles, muitas hipóteses sobre o problema ambiental mais difundido mundialmente: o aquecimento global.

“Para efeito de pesquisa, aquilo que abrange um interesse mais geral, são os estudos ligados às mudanças climáticas. Com base na oceanografia por satélite, trabalham-se com duas fontes primárias de dados: as variações de temperatura e a altura”, explica.

A febre oceânica

O cálculo sobre as variações térmicas do oceano foi o primeiro dado medido através de satélites que obteve aceitação geral da comunidade científica. Há registros de medições termográficas a partir do final da década de 70, algo essencial para o debate acerca das mudanças climáticas nos últimos anos. “É necessário ter uma série temporal contínua sobre alguns aspectos, e de temperatura nós temos.”

O satélite oceanográfico possui um equipamento que assemelha-se a uma câmera fotográfica, capaz de enxergar o que é, tecnicamente, uma faixa muito fina de espectro chamada de infravermelho. Tendo que todo objeto do universo, que não esteja na ordem de zero absoluto, está emitindo radiação, utilizando da teoria física da Lei de Planc, é possível converter tal emissão radioativa, transformando-a em escala de graus Celsius. Desta maneira, é viável estabelecer uma média térmica global que, atualmente, gira em torno de 19º a 20º.

“Através dessa enorme gama de informações sobre temperaturas marítimas, algumas medidas obtidas in situ, com termômetros ou radiômetros próximo à superfície, são comparadas àquilo que foi medido via infravermelho, buscando a maior precisão possível. Tal método funciona muito bem, em um único ponto de satélite, na ordem resolucional de 1 quilômetro, é capaz de se obter uma precisão de 95%, com margem de erro de 0,3ºC.

“30% a 50% do aumento do nível do mar relacionado ao degelo e o restante — de 50-70%, por aquecimento das águas”. Foto: Reprodução

O aumento das marés

Outra medida fundamental na oceanografia física foi a obtenção da altura do nível oceânico. Basicamente, do ponto de vista de mudanças climáticas, caso ocorra uma elevação métrica, é possível identificar aspectos correspondentes ao aquecimento global.

Através de um pulso de radar emitido do satélite com destino a superfície oceânica, o equipamento orbital recebe de volta a reflexão e, em linhas gerais, calcula o tempo levado para tal ação ocorrer. Como a velocidade de onda eletromagnética e da luz são conhecidas cientificamente, após contas matemáticas, correções de desvios e ajustes físicos, é possível obter um número bem preciso sobre a distância entre o satélite e a superfície. Comparando os dados obtidos diariamente, monitora-se o nível oceânico e evidencia-se sua elevação ou decréscimo.

Dentre as diversas conclusões retiradas a partir dos dados, pelo efeito do termômetro, podemos observar se a coluna d’água foi expandida, o que representa um aumento do nível marítimo e uma elevação da temperatura oceânica. Outra hipótese para tais acréscimos envolvem o ganho de massa do mar — se existe algo no continente que antes estava em estado sólido e torna-se líquido, coloca-se mais água na bacia oceânica. Normalmente, este acúmulo de massa é proveniente do derretimento das geleiras.

“A partir de comparações entre dados de satélites e informações medidas por correntômetro, marégrafos e bóias, conseguimos enxergar, em termos científicos, uma partição que vai de 30% a 50% do aumento do nível do mar relacionado ao degelo e o restante — de 50-70%, por aquecimento das águas”, esclarece Paulo Polito.

“Essa elevação da superfície é absolutamente global. Caso dividamos os oceanos de todo mundo inteiros por bacias, ou mais, dividindo tais bacias cardinalmente, ainda assim, todos as partidas obtidas mostraram um aumento do nível oceânico. Além, se considerarmos uma margem física de erro, todas as obtenções acerca do nível médio irão superá-las. Deste modo, podemos concluir, com bastante precisão, que há um aumento significativo do nível médio oceânico nos últimos 25 anos.”

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