Grupo de aves que ocorre no Brasil motiva novo estudo sobre evolução das espécies

Caboclinho. Foto: César Medolago
Charles Darwin, o pai da Teoria da Evolução das Espécies

Charles Darwin, no século 19, tornou-se mundialmente famoso por seus estudos sobre a evolução das espécies e o papel da seleção natural. Os tentilhões, pequenos passarinhos encontrados no arquipélago das Galápagos, foram muito importantes para embasar as suas conclusões. No século 21, pesquisadores da Argentina, dos Estados Unidos e do Brasil, da PUC do Rio Grande do Sul e do Museu de Zoologia da USP (MZ) apresentam uma nova perspectiva para a investigação evolutiva. Passarinhos do gênero Sporophila, que compreendem várias espécies popularmente chamadas de “caboclinhos”, chamaram a atenção dos pesquisadores por uma peculiaridade: os machos são muito diferentes entre si, enquanto as fêmeas são idênticas. Os “caboclinhos” têm hábitos de vida muito parecidos, porém não há cruzamentos entre as diferentes espécies. Embora compartilhem um ancestral comum até muito recentemente, algum mecanismo estaria envolvido para que elas coexistissem sem a existência de híbridos.

 As aves “idênticas”

Os caboclinhos são passarinhos de pequeno porte que podem ser encontrados em boa parte das paisagens abertas da América do Sul. “Os machos das 11 espécies são muito diferentes entre si, mas não é possível diferenciar as fêmeas, que possuem a plumagem marrom-uniforme. Este fato chamou a nossa atenção e foi um dos motivadores da pesquisa”, explica o professor Luís Fábio Silveira, curador das coleções ornitológicas do MZ. Intrigados, os cientistas se perguntavam como aves fisicamente tão distintas, no caso dos machos, podiam ser geneticamente tão diferentes a ponto de as fêmeas, idênticas entre si, não acasalarem com machos da outra espécie.

Caboclinhos machos; Disponíveis em:http://revistapesquisa.fapesp.br/wp-content/uploads/2015/10/044-049_Aves_236_175-100.jpg

Quando o material genético dos passarinhos começou a ser estudado notou-se que quase não havia diferença genética entre as espécies. De acordo com as análises, foi possível concluir que o processo de diferenciação entre as espécies foi muito recente, da ordem de alguns poucos milhares de anos, e que todas elas descendem de um ancestral comum. O que está acontecendo com os “caboclinhos” no Brasil foi o que Darwin observou em Galápagos, só que em estágio menos avançado.

Estudar evolução no século 21

Diferentemente do século 19, hoje os pesquisadores têm à disposição recursos que permitem análises muito mais complexas, incluindo a genética. Com elas é possível, por meio de programas de computador, lidar com quantidades muito grandes de informação, o que permite detalhar e explicar os mecanismos da evolução das espécies. Tais estudos também têm propósito de preservação ambiental. “Com a correta identificação, programas de repovoamento podem ser feitos, bem como programas de conservação em cativeiro, contribuindo para a salvação destas e de outras espécies.”

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