Quimioterapia em subdoses promete melhorias na qualidade de vida dos pacientes

Pesquisa com cães com tumores de pele demonstra grande aceitação do tratamento por animais e proprietários

Imagem: Reprodução

Popularmente, a quimioterapia é relacionada a grande sofrimento, devido a seus muitos efeitos adversos. Tratando-se de quimioterapia em animais, frequentemente o pensamento é de que “não vale a pena”, já que a sobrevida, naturalmente, é menor do que em um ser humano. Entretanto, um procedimento ainda relativamente recente tem dado os primeiros passos na mudança desse cenário: a quimioterapia em subdoses (conhecida como quimioterapia metronômica), que oferece muitas vantagens ao bem-estar dos pacientes.

Uma nova pesquisa da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP (FMVZ) registrou tanto a eficácia do tratamento quanto seus benefícios à qualidade de vida. Bruna de Castro Miranda tratou 32 cães com mastocitoma (tipo de tumor cutâneo maligno) em elaboração de seu mestrado, orientada por Julia Maria Matera. Após a extração do tumor, metade deles recebeu a quimioterapia convencional injetável, com vimblastina e prednisona, enquanto os outro 16 foram tratados com a quimioterapia metronômica, usando lomustina e prednisona. A primeira vantagem veio com o controle da toxicidade dos fármacos: “O efeito da hepatotoxicidade foi bem menor. Isso era algo que queríamos observar, porque a lomustina é um quimioterápico que causa efeitos muito tóxicos para o fígado, mas ela é excelente para tratar esse tipo de tumor com que estamos lidando nos cães e, muitas vezes, ela não era usada por conta disso”, relata Miranda.

Diferentemente da quimioterapia convencional, que exige visitas frequentes ao hospital para sessões de terapia e extrações de sangue para exame, a metronômica é administrada diariamente por via oral, tornando-se mais prática aos pacientes e proprietários, além de mais barata. Por envolver doses menores dos medicamentos, ela também funciona de forma diferente no organismo: “A quimioterapia convencional mata a célula tumoral por citotoxicidade, por necrose e apoptose (a morte celular programada), enquanto a quimioterapia metronômica faz com que células do próprio sistema imunológico tenham melhores condições para responder contra o tumor”, explica a pesquisadora. Isso implica, ainda, numa redução dos efeitos colaterais conhecidos da quimioterapia.

Como resultado, o estudo registrou grande aceitação do tratamento por parte dos proprietários dos cachorros no grupo lomustina com prednisona, com 86% deles afirmando que voltariam a fazer tratamento quimioterápico em seus pets, caso fosse necessário. “O que é bom, porque hoje, na medicina veterinária, infelizmente lidamos com uma barreira muito grande para explicar como é uma quimioterapia para o proprietário, para ele aderir ao tratamento”, pontua Miranda. “A quimioterapia não é só para dar mais tempo de sobrevida ao animal, mas também dar mais qualidade de vida, porque, se não controlamos as metástases à distância, esse paciente vai ter muita dor, vai ter muitas complicações e vir à óbito mais cedo”.

O mastocitoma de grau 1 e 2 é ideal para aplicação desse procedimento. Mastocitomas são o tipo mais comum de tumor de pele maligno, embora frequentemente donos de animais os confundam por verrugas ou, quando subcutâneos, por acúmulos de gordura. “Às vezes até mesmo muitos colegas veterinários que não fazem a citologia de um mastocitoma subcutâneo alegam erroneamente que aquilo pode ser um lipoma”, afirma a pesquisadora, ressaltando a importância da realização dos exames.

Todavia, infelizmente, não é em qualquer caso em que se pode substituir o tratamento convencional pelo metronômico. Em geral, as subdoses ainda são usadas apenas como tratamento adjuvante (depois da extração do tumor ou depois de passar pela quimioterapia convencional) e não são recomendadas em quadros muito avançados, que demandam medidas mais agressivas para conter a proliferação de metástases.

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