Pesquisa congrega intervenções e conforto populacional em Paraisópolis

Doutorando da FAU analisa como a compreensão do habitat urbano pode trazer benefícios à população da região

Foto: Eduardo Pimentel Pizarro

No Brasil, mais de 11 milhões de pessoas residem em assentamentos informais, número equivalente à população absoluta da maior cidade do país. Na cidade de São Paulo, 1,6 milhões de pessoas vivem em favelas, de acordo com a Secretaria de Habitação (Sehab, 2011). Os dados permitem afirmar que as favelas são uma realidade consolidada no País. Motivado por este cenário, o doutorando da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, Eduardo Pimentel Pizarro, tem desenvolvido uma pesquisa que se atém à análise das questões ambientais existentes no caso Paraisópolis. Neste cenário, o estudo tenta responder a seguinte pergunta: quais respostas poderiam ser oferecidas à construção de futuros alternativos?

A pesquisa aborda a problematização inerente aos conceitos de favela e comunidade e como estas definições podem impactar a realidade desta população. ”O uso destes termos, seja favela ou comunidade, indica implicitamente o entendimento de que se trata de algo diferente, em comparação ao restante da cidade”, analisa Pizarro. Para o pesquisador, o termo comunidade é uma aplicação exacerbada do politicamente correto. Por outro lado, destaca a complexidade que permeia o assunto. ”Décadas atrás, morar na favela era motivo para não conseguir um emprego, por exemplo. Líderes de Paraisópolis reconhecem que esta será vista como favela para sempre, ao mesmo tempo em que reivindicam o título de comunidade, de bairro, no que toca o pleno acesso à infraestrutura, equipamentos e serviços públicos”, complementa.

O conceito de interstícios urbanos de favelas também é analisado. Por definição, trata-se de uma rede composta por ruas, calçadas, becos, vielas, campos de futebol, entre outros, relacionada a espaços urbanos orgânicos que tiveram um crescimento espontâneo, que tem uma aparência irregular e aparentemente caótica. ”Os interstícios possuem tanto carências quanto potencialidades. Os espaços entre as edificações são, em diferentes proporções, ainda carentes de infraestruturas, mas, ao mesmo tempo, a configuração morfológica destes espaços abertos constitui uma série de oportunidades latentes ao uso e apropriação urbana”, defende Pizarro. Por conta disso, é preciso garantir que estes espaços ofereçam à população o mínimo de eficiência, segurança e acessibilidade.

A necessidade de transformar Paraisópolis enseja uma discussão sobre o respeito à dinâmica socioespacial. ”Urbanizar Paraisópolis não significa transformá-la no Morumbi. Pelo contrário.”, enfatiza. Entender a favela significa avaliar a realidade, a fim de definir problemas, potencialidades e condicionantes indispensáveis para a construção de alternativas. Pizarro constatou que as ruas de Paraisópolis são muito quentes e desconfortáveis, enquanto as vielas, apesar de serem mais confortáveis termicamente – por causa do maior sombreamento das superfícies -, não garantem níveis mínimos de ventilação natural e salubridade para as casas nos miolos das quadras. ”Embasada nesse entendimento das dinâmicas ambientais existentes, a estratégia de qualificação busca tornar os espaços abertos mais confortáveis termicamente, por meio de sombreamento das ruas e ventilação e acesso controlado ao sol nas vielas, basicamente”, analisa.

O contraponto entre Paraisópolis e o Morumbi | Foto: Eduardo Pimentel Pizarro

Em meio à proposição das alterações do ambiente, cita-se a identidade da população. Sobre isso, Eduardo é bastante enfático. ”A favela é um caso de cidade sem urbanista e arquitetura sem arquiteto”. O doutorando acredita ser fundamental que o arquiteto urbanista não se preocupe com a proposição de um projeto final e completo, mas sim um conjunto de diretrizes a partir dos quais possam continuar a construir e reconstruir seu território. “A intervenção em favela deve ser pensada de forma articulada entre moradores, profissionais, poderes público e privado. Trata-se de um diálogo, uma negociação”, defende.

Por fim, Pizarro analisa quais os legados de sua pesquisa. “Acredito que a favela não é algo à parte da cidade, a favela é cidade. Levanto também a bandeira de que podem ser encontradas nas favelas uma série de respostas e estratégias para a discussão e requalificação da cidade como um todo”.

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