Pesquisa da USP estuda a plataforma da ONU IPBES

De acordo com pesquisador, a Plataforma Intergovernamental para a Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos une conhecimentos naturais a conhecimentos sociais

Arte: Camilla Freitas

Interessado em mudanças climáticas, o pesquisador Ricardo de Almeida Marchiori está desenvolvendo a pesquisa intitulada A Natureza dos Serviços Ecossistêmicos no Instituto de Estudos Brasileiros da USP. Sua proposta é analisar a Plataforma Intergovernamental para a Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos da ONU (IPBES) que visa envolver ciência e políticas públicas no combate de problemas ambientais.

A escolha do tema foi feita em conversa com seu orientador, Stélio Marras, que  indicou os estudos da antropóloga Manuela Carneiro da Cunha. “Ela pautava muito a questão da biodiversidade, na qual quanto mais diversidade humana, de modos de vida se tem – sejam indígenas, ribeirinhos, quilombolas e toda a diversidade de pessoas que vivem da terra e para a terra e que não estão integrados em nosso sistema de produção – mais há ligação com a biodiversidade”, conta Ricardo. Além disso, pesquisador conta que o campo no qual transita é denominado antropologia da ciência, uma vez que está mais interessado em olhar cientistas e como a ciência se dá na sociedade.

“Minha pesquisa, então, seria acompanhar um pouco mais de perto a interação de Manuela Carneiro com os cientistas e antropólogos”. No entanto, Ricardo não conseguiu acompanhar de perto os cientistas responsáveis pela elaboração do estudo da ONU. Os registros para sua pesquisa foram feitos através dos relatórios publicados pela plataforma online do IPBES. “Consegui dar andamento à minha pesquisa acompanhando grande parte desses relatórios. O brasileiro sairá em 2018. Ele foi constituído de forma escalonada, separados por regiões, mas, posteriormente, todos irão compor um relatório global.”

A plataforma

Por unir conhecimentos naturais aos sociais, o IPBES tende a ser uma plataforma que lida de forma mais concreta com os problemas ambientais. O pesquisador afirma que, por ser um novo mecanismo (criado em 2011) não se pode afirmar se suas discussões serão colocadas em prática ou não. Contudo, ela se diferencia, em alguns aspectos fundamentais de outras plataformas ambientais da ONU, como o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas). O IPBES traz conhecimentos das ciências sociais e das relações públicas para o combate aos problemas climáticos. Além disso, também abarca algumas práticas culturais de populações tradicionais. “O IPBES vem na onda de trazer outras formas de fazer grandes relatórios sobre ecossistemas, mas é a primeira vez que a ONU constitui realmente uma plataforma visando criar capacidades e ensinar as pessoas a lidarem com a questão e, principalmente, capacitar os tomadores de decisão”, destaca Marchiori. A criação do IPCC foi a primeira que a ONU tentou dar a mesma importância à biodiversidade que deu ao aquecimento global.

Há, também, áreas de contestação dentro do próprio programa. Por ser globalizado e buscar incluir culturas tradicionais de todo o mundo, o pesquisador conta que houve um momento no qual um conflito ocorreu porque a Bolívia discordava do conceito serviços ecossistêmicos empregado pelos cientistas. “A delegação da Bolívia os rechaçou e os acusou por usarem um conceito capitalista que queria facilitar a exploração de serviços”, lembra. Os bolivianos angariaram o apoio de outros países da ALBA (Aliança Latino Bolivarianista das Américas), o que gerou um impasse e acabou por agregar o conceito “mãe terra” ao IPBES. “Esses locais de contestação são algo positivo, pois trazem conceitos incrementais. Há 10 anos, nas plataformas da ONU, populações quilombolas não teriam nada a dizer sobre colapso ecológico e, agora estão tendo espaço e, assim, mais espaço é aberto para contestação, criando a noção de ganhos incrementais.”

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*