Pesquisa investiga níveis de esperança na família de mulheres com câncer

A partir de entrevistas com familiares, o estudo mostra como a esperança se desenvolve e quais fatores a influenciam

Um novo estudo da Escola de Enfermagem da USP investigou a experiência dos parentes de paciente mulheres que enfrentavam o câncer de mama. A tese de doutorado de Ariana Nogueira teve, como objetivo, mapear os fatores de influência e o nível geral de esperança dessas pessoas, e contou com mais de 200 entrevistas para a realização das  análises quantitativas e qualitativas.

A Escala de Esperança de Herth, formulada em 1992 pela enfermeira Kaye Herth, foi a metodologia empregada na parte quantitativa da pesquisa. Trata-se de uma escala baseada no autorrelato, de fácil e rápida aplicação. Ela é composta por 12 itens escritos de forma afirmativa, aos quais o entrevistado dá uma nota entre “1- discordo completamente” e “4- concordo completamente”. Os itens são frases como “Eu posso me lembrar de tempos felizes e prazerosos” e  “Eu tenho planos a curto e longo prazos”. O resultado pode ir de 12 a 48 pontos e, quanto maior for a pontuação final, maior é o nível de esperança do participante. Nogueira entrevistou 219 familiares, chegando a uma média de pontuação de 38,02. “O nível de esperança encontrado entre os familiares foi alto, significando que os familiares acreditam na recuperação da mulher, acreditam que vai dar tudo certo e que há grandes chances de cura”, comenta a doutora.

Além do resultado geral elevado na Escala de Esperança de Herth, o estudo também percebeu relações entre o nível de esperança e variáveis como sexo, estado civil, religião, ocupação e grau de parentesco. Por exemplo: os familiares do sexo masculino têm taxas de esperança mais altas do que as do sexo feminino. Na categoria Religião do familiar, os indivíduos católicos e os sem religião, mas com fé foram os que apresentaram menores resultados na Escala. Quanto ao estado civil, os companheiros divorciados tinham resultados mais baixos que os companheiros casados mas os cônjuges, como um todo, obtiveram maiores índices que as mães das pacientes. Por fim, a categoria Ocupação mostrou taxas parecidas entre os parentes empregados e os aposentados, que são superiores à média de esperança das donas de casa. Não houve diferença entre os níveis de esperança para as variáveis Faixa etária, Cor/raça, Anos de estudo, Experiência anterior e Procedência.

Para a construção qualitativa da pesquisa, Ariana utilizou o método da pesquisa de narrativa, que tem como foco a experiência humana e trata-se de um estudo de colaboração entre pesquisador e participantes. Segundo ela, “essa perspectiva metodológica possibilitou ao familiar discorrer sobre as crenças e esperanças envolvidas em sua experiência, considerando sua visão de mundo e os conflitos que vivenciou”. Nesse sentido, os entrevistados puderam compartilhar histórias sobre suas vidas, especialmente sobre o processo de adoecimento de sua parente, atribuindo significados para os acontecimentos passados e reelaborando perspectivas para o futuro. Esses significados e essas perspectivas, então, eram mapeados no decorrer da pesquisa.

Da análise interpretativa das respostas dos participantes, foram evidenciadas as seguintes etapas no processo de assimilação da doença: A notícia do câncer, que revela o impacto do diagnóstico sobre o familiar; Passar pela experiência com a mulher, mostrando os comportamentos e atitudes de cuidado que o parente desenvolve quando decide acompanhar a mulher na luta contra o câncer; e Nutrir a própria esperança, que expõe as ações de cuidado e estratégias do familiar visando apoiar e alimentar a esperança da mulher no enfrentamento do câncer.

Para Ariana, “a enfermagem possui um papel importante no apoio a familiares de mulheres com câncer de mama, bem como no desenvolvimento de estratégias para se promover a esperança e evitar a desesperança”. Sobre a importância da pesquisa, a doutora diz que o estudo contribui de forma especial na assistência à mulher acometida por câncer de mama e a seus familiares, uma vez que mostra que a esperança está presente nesse momento difícil e que os familiares utilizam-na para mobilizar-se e para enfrentar a situação. “A esperança precisa ser estimulada, de modo que os familiares tenham força para fornecer suporte à mulher até o final”.

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