Falta de representatividade feminina no cenário musical

Relação entre música e feminismos é tema de discussão em evento, no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP

Ilustração: Isabela Zakimi Innocentini

Cursos de música, festivais ou bienais: o meio musical ainda está atrelado à falta de igualdade entre gêneros. A musicóloga, performer e compositora, Isabel Nogueira, comentou sobre a ausência e o silenciamento de mulheres na música, durante as Jornadas de Estudos Interdisciplinares sobre Música do IEB: Música e Política, promovidas nos dias 5 e 6 de outubro.

A musicóloga conta que, ao analisar imagens do século 20 para o Centro de Documentação da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), percebeu como as diferenças de gênero estavam marcadas dentro da academia. Enquanto o vestuário de homens era preto, representando a intelectualidade, as mulheres eram caracterizadas como puras, através de roupas brancas.

A pesquisadora, que atualmente leciona na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), também observou fotografias de intérpretes femininas, nas quais a maioria está com “o olhar ao infinito, acima do ombro, sem sorriso; como se fosse uma descolocação da própria presença”.

A reduzida participação de mulheres no ambiente musical faz com que não existam modelos para que outras se espelhem, explica Isabel. A partir disso, as mulheres passam a acreditar que não devem ocupar esses espaços, sendo indevida a sua presença. Assim, um ciclo de medo e culpa é gerado.

Apesar dos avanços, a situação ainda se mantém até os dias atuais. Para combater esse cenário, a musicóloga sugere a criação de teias e malhas colaborativas, em que mulheres possam compartilhar os seus trabalhos e, assim, trocarem experiências para outros processos criativos.

Além da presença de Nogueira, a mesa de debate “Música e Feminismos”, que ocorreu no dia 5 de outubro, teve a participação de Ligiana Costa, cantora, compositora e musicóloga, e Lílian Campesato, doutora em Música pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP.

Ligiana apontou sua preocupação com o “sequestro” das lutas de minorias -mulheres, negros e LGBTTs- pelo marketing, situação que ocorre na música e na moda, por exemplo. “Reconheço a importância da representatividade, apesar de questionar o sistema cruel do capital, o qual essa representatividade está inserida”, afirma a cantora.

Enquanto Lílian questiona o próprio nome da mesa “por que o uso de feminismos no plural e de música no singular?”. Para ela, a ideia de que é possível falar de música, no singular, é reflexo da cultura musical acadêmica dominante, identificada com a história da música erudita ocidental.

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