Quimioterapia para cães com câncer de pele é ineficaz

Pesquisa da USP conclui que, apesar da incidência da doença ser baixa, as próprias proteínas de resistência dos animais barram o tratamento

Quimioterapia em cães com câncer de pele é ineficaz. Foto: Reprodução/Site Roberto Tripoli

A baixa incidência de linfomas cutâneos em cães faz com que as pesquisas sobre o assunto sejam ainda mais raras. Por isso, a dissertação de mestrado da Ana Luiza Nairismagi Alves foi vista como uma pesquisa preliminar em relação a todas as dúvidas que esse tipo de câncer traz para a veterinária. A mestranda buscou entender como o tratamento agia sobre os cães e por que a sobrevida deles continuava tão baixa, cerca de apenas quatro meses.

Inicialmente, a pesquisadora utilizou um marcador de imunoistoquímica para ver quais proteínas de resistência estavam expressas nos linfomas cutâneos, um tipo de câncer que se origina nos linfócitos. “A gente faz a biópsia do animal, depois colocamos no formol e isso vira um bloco de parafina”, explica. “Então, nós cortamos esses blocos, colocamos numa lâmina e fazemos o exame de colocar anticorpos para ver se a proteína está expressa ou não.”

O resultado do teste deixou claro o que alguns veterinários já estavam notando: a quimioterapia pelo CHOP modificado é ineficaz. O protocolo dura 19 semanas e aplica as proteínas Ciclofosfamida, Hidroxidoxorubicina, Vincristina (Oncovin, em inglês) e Prednisona (CHOP) de formas alternadas por quatro vezes, só que as células do linfoma são resistentes a esses componentes. “Tanto a glicoproteína P, como a proteína de resistência pulmonar, LRP, estão tirando o quimioterápico de dentro da célula e colocando pra fora. Isso quer dizer que o protocolo não atinge os níveis citotóxicos necessários”, explica Ana Luiza.

Uma alternativa para o CHOP modificado já existe, só que ela também tem seus lados negativos. A lomustina é uma droga única, usada uma vez a cada três semanas durante o tratamento, e já é vista como mais efetiva na literatura internacional, entretanto ela nem sempre está disponível pois há uma falta da droga quimioterápica no mercado. Além disso, ela está mais propensa a ter efeitos colaterais. “A lomustina tem muita hepatotoxicidade, então os animais às vezes, com uma ou duas vezes de quimioterapia, começam a ter problemas no fígado e a gente tem que interromper o tratamento.”

A pesquisa também apresentou outro problema em relação aos linfomas cutâneos caninos: sua classificação. Diferente da medicina humana, que classifica os linfomas entre células B e T, a veterinária divide os linfomas cutâneos só como epiteliotrópicos e não-epiteliotrópicos, sem buscar a célula que está formando esse tumor, e isso acaba sendo insuficiente. “A classificação entre epiteliotrópico e não-epiteliotrópico realmente não diz muita coisa sobre os linfomas porque a gente tentou ver se existia alguma diferença estatística entre essas duas classificações, só que não achamos nada”, conta a mestranda.

Para Ana Luiza, a solução seria se espelhar um pouco na classificação humana e, então, desenvolver uma nova classificação de linfomas cutâneos. “As células B e T existem nos cães também e tiveram alguns casos na imunofenotipagem que nós vimos uma dupla marcação, de ambas as células, e isso ainda deveria ser bem estudado.”

Infelizmente, a situação dos cães com linfomas cutâneos ainda está longe de chegar a um resultado positivo. Apesar da quimioterapia ser pouco, ou nada, efetiva, ela diminui o tempo de evolução da doença. “Sem ela, o animal pode morrer em uma semana, duas, um mês, no máximo”, explica. “A verdade é que a gente tem que buscar outras formas, outras medicações, entender melhor como funciona esse tumor, para conseguirmos pensar em uma forma de tentar aumentar a sobrevida desses animais.”

1 Comentário

  1. Tenho um cão com linfoma, fez 7 sessões de quimios mas vi que voltou novamente antes de “terminar” a oitava. Gostaria de saber se poderia interromper o tratamento já que não está surtindo efeito ou se a interrupcao acelera o problema.

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