Relação entre uso de cores em hotel e comportamento de hóspedes é investigada

Resultados foram analisados diferenciando aspectos fisiológicos de fatores interpretativos da resposta humana a cores

Foto: Divulgação. Modificação: Marcella Affonso

Levando-se em consideração as preferências e as taxas de ocupação dos quartos, verde, azul e branco foram apontados como as cores preferidas entre os hóspedes do Ceta Ecotel, hotel ecológico localizado na cidade de Macapá, no nordeste do Brasil. O motivo é justificado cientificamente: as duas primeiras cores são associadas à natureza, a última à limpeza e todas estimulam uma resposta fisiológica calmante e relaxante nos consumidores, resposta eficiente para um local no meio da floresta amazônica, destinado ao turismo.

Os resultados, fruto de um estudo de caso realizado pelas pesquisadoras Paula Csillag e Tilia Monte de Almeida, foram obtidos através do cruzamento de informações obtidas por meio de dois questionários qualitativos e quantitativos — um, com 50 funcionários do hotel, incluindo os proprietários; e outro, com 640 hóspedes — e de uma uma análise dos dados obtidos usando o Modelo de Percepção SENS|ORG|INT, que diferencia aspectos fisiológicos da percepção humana sobre as cores, de fatores culturais e interpretativos.

Artes, design, psicologia e neurociência

O chamado Modelo de Percepção SENS|ORG|INT, utilizado na análise dos dados, trabalha com a concepção de que a percepção humana visual se dá de três maneiras distintas. A primeira ocorre através das impressões sensoriais (SENS), fenômeno ocorrido somente no olho, quando a cor atinge a pupila em forma de luz. A segunda acontece por meio dos processos organizativos (ORG), concepção exclusivamente fisiológica e, portanto, que tende a ser igual para todos os seres humanos com uma visão normal. É quando a luz transforma-se em sinal elétrico. Por fim, a terceira realiza-se através dos processos interpretativos (INT), momento em que esses sinais elétricos atingem áreas do cérebro relacionadas a elementos como memória e cultura, variando de pessoa para pessoa.

O modelo une diferentes campos de estudo — como artes, design, psicologia e neurociência  —, com o objetivo de identificar quais aspectos da percepção tendem a ser válidos para todos os seres humanos e quais não, noção importante para o uso de cores em projetos arquitetônicos. “A grande questão é separar o que é uniforme para todo mundo e o que não é”, explica Csillag, autora do modelo criado em 2007.

Cor como conceito central

Conforme a pesquisadora observa, a cor utilizada em projetos arquitetônicos, muitas vezes, é vista apenas como decoração. Contudo, como o estudo demonstrou, o uso das cores nos ambientes construídos afeta o comportamento dos usuários e, consequentemente, reflete no sucesso ou insucesso dos ambientes, devendo ser, portanto, visto como um conceito central. Nesse sentido, Csillag alerta para a necessidade de se olhar para as cores de um ponto de vista mais científico, para que seja possível fazer um uso mais consciente delas.

O estudo completo está publicado na última edição da  Pós., publicação quadrimestral do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP (volume 24, número 43, 2017).

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