Mosquitos transgênicos combatem doenças transmitidas por Aedes aegypti

Mosquitos machos modificados geneticamente possuem um marcador verde fluorescente. Imagem: Margareth Capurro

O desenvolvimento de linhagens de mosquitos Aedes aegypti transgênicos como medida de controle da transmissão de doenças como dengue, chikungunya, zika e febre amarela é tema de pesquisas da professora Margareth Capurro, no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB).

A professora explica que a alteração genética do mosquito macho, feita em laboratório, tem como objetivo matar a prole ou tornar a fêmea, responsável pela transmissão do vírus, estéril. Para isso, utiliza-se a chamada técnica inundativa, que consiste em liberar um grande número de machos transgênicos no meio ambiente, de modo que a fêmea tenha mais chances de copular com um inseto modificado do que com um selvagem. Assim, a população de mosquitos diminuí. “É como se fosse um inseticida natural”, exemplifica.

A técnica, contudo, não é capaz de extinguir a população natural de mosquitos, o que pode acarretar em um quadro em que haja poucos mosquitos, mas todos infectados, sem minimizar a frequência da doença. Por isso, em uma segunda etapa, denominada replacement ou introdução gênica, a população recebe um gene que bloqueia a transmissão do vírus. Na sua pesquisa, Margareth desenvolve uma linha suicida, de modo que, ao receber o vírus, é ativado um gene responsável por matar o inseto – no caso, a fêmea morre antes de transmitir a doença.  

Esquema ilustrativo das etapas de supressão e introdução gênica. Imagem: Margareth Capurro

Ao fazer uso das duas técnicas – redução do número de mosquitos e introdução gênica – simultaneamente, o objetivo é reduzir a população selvagem, que transmite a doença. Entretanto, inevitavelmente uma parcela dos mosquitos modificados também será morta. Para evitar isso, um novo projeto, chamado de rescue e ainda em fase de análises, estuda uma maneira de trabalhar com as duas linhagens de forma mais eficiente.

Apesar de contribuir para o controle de doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, a professora ressalta que a técnica “não é a bala de prata que vai salvar o mundo” e deve ser associada a outras medidas preventivas, como a retirada de criadouros do mosquito, uso de larvicidas, proteção de janelas e portas com telas.

Entendendo a cópula

Para compreender melhor o comportamento sexual do mosquito e entender o processo da cópula, um estudo do sexo do Aedes aegypti também vem sendo desenvolvido no Instituto. Em um ambiente controlado, usando machos transgênicos, que possuem um marcador fluorescente, e selvagens, constatou-se que pode haver casos, em menor número, de proles que não são do primeiro pai.

A professora explica que as fêmeas armazenam todos os espermatozoides de sua primeira cópula e eles serão os responsáveis por gerar os seus filhos para o resto de sua vida. Isso ocorre porque, após a primeira relação da fêmea, acontece um processo denominado melanização responsável por endurecer a bursa, impossibilitando a entrada de espermatozoides. Com o estudo, Margareth observou que, quanto menor o intervalo de tempo entre uma cópula e outra, maior as chance de haver filhos de pais diferentes. O que permitiu descobrir que a fêmea leva 40 minutos para concluir o processo de copulação.

A professora ainda salienta que, apesar de não produzir resultados práticos, a pesquisa básica é essencial para o desenvolvimento do produto. “Faço pesquisa básica e pesquisa aplicada, não existe essa diferença. Preciso fazer a base para chegar em qualquer produto”.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*