Para economista, uso de recursos ociosos teria contribuído para retomada do crescimento econômico

Estudo analisa as propostas de Ignácio Rangel para a saída da crise na década de 1980

O economista Ignácio Rangel foi silenciado pela esquerda e direita brasileira - Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Pouco conhecido e compreendido, o economista maranhense Ignácio Rangel propôs alternativas à crise econômica brasileira durante os anos de 1980.  Ele criticava as medidas adotadas nesses períodos: surgem políticas anti-inflacionárias que acarretam no aumento do endividamento, arrocho salarial e desemprego. Segundo Rangel, a utilização de recursos ociosos era a melhor saída para que o crescimento econômico pudesse ser retomado. Assim, haveria um aumento nos investimentos, na geração de empregos e, consequentemente, na renda dos brasileiros.

O atual cenário de recessão do país já fora vivenciado anteriormente: o Brasil enfrentou a alta inflação e o baixo crescimento econômico no período conhecido como a “década perdida”. Em 1982, chegou a ser obrigado a decretar a moratória da dívida externa por não conseguir pagar os juros que havia acumulado.

À época, para solucionar a crise, Rangel defendeu a concessão de serviços de utilidade pública à iniciativa privada, pois o setor privado concentrava recursos ociosos. “Para ele, o Estado, naquela fase de desenvolvimento brasileiro, se concentraria no planejamento do comércio exterior”, explica o geógrafo Leandro Mendes Nogueira. A proposta de Rangel nasceu após notar a capacidade ociosa do setor de bens de produção, enquanto havia outra área estrangulada: o Estado estava sem recursos e impossibilitado de investir nos serviços de utilidade pública  – transporte coletivo, energia elétrica, gás e telefone, por exemplo.

Em sua dissertação de mestrado, A interpretação de Ignácio Rangel e o Brasil do “milagre” e “antimilagre” econômico, realizada no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP, Nogueira esmiuçou as teses do economista que, quando conhecidas, são interpretadas superficialmente.

A proposta feita por Rangel  tinha como principal finalidade a estruturação do capitalismo financeiro brasileiro. Sua interpretação era baseada nas especificidades do Brasil. “Nos anos 50, uma série de teorias estrangeiras estavam sendo aplicadas no país de uma forma mecânica. Ele, então, incorpora essas teorias e tenta adaptá-las ao caso brasileiro”, aponta o pesquisador. Para compreender o seu pensamento, é preciso conhecer a sua metodologia, como a tese da dualidade básica. Ele acreditava que era característica da história do Brasil a combinação dialética entre diferentes modos de produção, que se formavam em um só.

Assim como importantes intérpretes brasileiros,  –  

O economista Ignácio Rangel – Foto: Reprodução

Celso Furtado, Florestan Fernandes e Caio Prado Jr.  – Rangel apresentou uma análise sobre o desenvolvimento brasileiro no século 20.  Porém, diferentemente de seus pares, tornou-se pouco conhecido. Uma das razões é o fato de não ter participado do universo acadêmico. Por outro lado, foi um profissional público: trabalhou na assessoria econômica de Getúlio Vargas e no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE).

“Ele tem um pensamento bastante complexo e algumas reflexões polêmicas, que não agradavam nem a direita, nem a esquerda brasileira”, afirma Nogueira. Para além da concessão de serviços públicos à iniciativa privada, o descontentamento da esquerda com Rangel deriva de suas ideias em relação à reforma agrária. De acordo com o economista, o Brasil empreendeu uma industrialização dinâmica sem a necessidade de uma reforma agrária anterior, que só se tornou fundamental nos anos 1980, devendo ocorrer por meio da queda do preço da terra.

Mesmo diante de polêmicas, o pensamento de Rangel traz contribuições em relação às medidas adotadas durante crises econômicas.

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