Falta de dados da cadeia produtiva de tintas é lacuna em estudo sobre impactos ambientais

Estudo da Escola Politécnica propôs uma técnica normatizada para identificar possíveis impactos ambientais em todas as etapas de elaboração do produto

Imagem: Reprodução

Uma pesquisa da USP chamou a atenção para o processo de elaboração de tintas. A hipótese de Glaucia Buchmann buscou demonstrar que é preciso dar mais foco à cadeia produtiva, desde a extração e produção de matérias-primas até a entrega do produto final ao consumidor, e não somente à fase de uso. Com a aplicação da metodologia de avaliação de ciclo de vida, foi possível criar um modelo de todas as etapas: do processo criativo, uso e destinação final.

Para o projeto do mestrado, Glaucia realizou uma coleta de dados sobre os processos de produção das matérias-primas e das tintas para compor inventários de ciclo de vida: “As formulações das tintas possuem diversos componentes, de diferentes fontes de recursos naturais, processos químicos e aspectos toxicológicos, o que as torna bastante complexas. Foi necessário pesquisar os aspectos ambientais de cada um dos componentes, como consumo de água, energia e materiais bem como emissões atmosféricas, resíduos sólidos e efluentes líquidos”.

Glaucia utilizou a chamada ACV (avaliação do ciclo de vida): uma metodologia que pode ser aplicada a qualquer produto a fim de se medir impactos ambientais. Foi criada uma versão de tinta mais “ecológica” para ser comparada a uma convencional, em que foi pontuada a redução dos impactos causados ao meio ambiente e em quais pontos a nova versão era mais vantajosa. “É possível aplicar a ACV para comparar os impactos ambientais de tintas a partir da formulação, até então isso não era feito”, explica Glaucia ao ser questionada sobre como sua pesquisa auxilia o processo de inovação.

A pesquisadora, que trabalha no ramo de P&D de tintas, compartilha que um dos desafios encontrados foi a falta de dados primários. “Por motivos de confidencialidade e regras de compliance da empresa em que trabalho, não pude contatar fabricantes de matérias-primas tampouco utilizar dados internos para construir os inventários. Por isso, os dados empregados no estudo foram coletados da literatura técnica e científica, além de diversas patentes”.

Uma das conclusões do estudo é que foi comprovada, com a aplicação da ACV, a redução de impactos ambientais na formulação proposta em relação a convencional. Além disso, destaca-se a necessidade de uma avaliação completa por todas as fases do ciclo de vida das tintas e não somente a fase de uso. Glaucia relata que o mercado de tintas está focado em reduzir impactos durante a aplicação dos produtos e que possam causar danos a saúde do consumidor: “A preocupação com aspectos relacionados a aplicação, como a redução de compostos orgânicos voláteis (VOC), são extremamente importantes, mas não são suficientes para caracterizar produtos ambientalmente mais vantajosos. É preciso um olhar crítico para o ciclo de vida completo, do berço ao túmulo do produto”.

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