Consumo de frutas e hortaliças entre jovens brasileiros é insuficiente

Essenciais para o crescimento, as frutas ainda estão pouco presentes na alimentação do jovem. (Foto: Pedro Bolle / USP Imagens)

A adolescência é um importante período de transição para a saúde humana, e, portanto, exige cuidados especiais. O consumo de frutas e hortaliças é essencial para uma alimentação saudável capaz de prevenir doenças não transmissíveis, como a diabetes e doenças cardiovasculares. A recomendação diária de consumo de frutas e hortaliças, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), é de 400 gramas por dia. Entretanto, esse valor está bem longe de ser atingido pelos jovens brasileiros, como mostra a dissertação de Mestrado de Beatriz del Fiol, “Diferenças nos fatores associados ao consumo de frutas e de hortaliças entre os adolescentes brasileiros”, desenvolvida pela Comissão de Pós-Graduação Interunidades em Nutrição Humana Aplicada (Pronut) e publicada pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF).

A partir de dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Beatriz analisou que quase metade dos jovens não consumiu frutas e hortaliças nos dias avaliados, e só 3% atingiram a quantidade recomendada. As frutas foram, em geral, consumidas in natura ou pouco processadas, como é o ideal do ponto de vista nutricional. As hortaliças, por sua vez, passaram por diferentes processos de preparo, como se é esperado. Os resultados são preocupantes pensando nos aspectos de saúde pública e nutrição, porque tais tipos de alimentos são ricos em nutrientes e vitaminas essenciais para o desenvolvimento e crescimento de adolescentes.

Fatores diferentes

Um dos objetivos da pesquisa foi entender os fatores que influenciam o consumo de frutas e os que influenciam o consumo de hortaliças, visto que a maioria das pesquisas trata esses alimentos como um só grupo. Por mais que ambos sejam parecidos do ponto de vista nutricional, o modelo matemático mostrou diferentes características associadas ao consumo de cada um. As frutas, por exemplo, estão ligadas ao sexo – mais consumidas por mulheres –, ao estado nutricional de maneira inversa e à zona residencial, ou seja, são mais presentes em áreas rurais do que urbanas. Já as hortaliças são mais consumidas quando seu preço é menor e dependendo da disponibilidade da região no país.

A renda per capita é o único fator comum entre os dois grupos, mas de maneira diferente: uma maior renda implica em um maior impacto no consumo de frutas, enquanto o consumo de hortaliças aumenta bem menos. “Outro fator importante é que as hortaliças exigem um preparo”, explica Beatriz. “Isso gera um obstáculo para o consumo mesmo entre aqueles que têm uma maior renda e podem pagar por elas”.

A região Norte é, curiosamente, a região com maior consumo de frutas e menor consumo de hortaliças. A pesquisadora explica que isso é um exemplo de como a disponibilidade afeta a dieta dos jovens: lá, as frutas são abundantes, mas poucas hortaliças chegam a ser, de fato, comercializadas, por terem, na maioria das vezes, seu cultivo concentrado em outras regiões.

A caminho da mudança

É consenso que políticas públicas devem ser tomadas para melhorar a alimentação dos brasileiros, principalmente entre os adolescentes. Pensando nisso, um dos pontos importantes da dissertação é apontar possíveis direcionamentos para planos de ação de caráter nutricional. Beatriz ressalta que a educação alimentar é importante, mas o ponto central ainda é a questão do preço: “Não adianta falar ‘tem que comer isso’ e a pessoa não ter renda para comprar”. Ela cita exemplos de supermercados que vendem legumes e frutas com aparência menos atrativa (mas ainda perfeitamente consumíveis) por um preço mais barato. Considerando que um dos resultados da pesquisa foi justamente que o preço afeta diretamente o consumo de hortaliças e a renda per capita tem um grande impacto sobre o consumo de frutas, é impossível solucionar o problema sem pensar nos aspectos econômicos.

Outro direcionamento possível é o aumento da abrangência e da distribuição de frutas e hortaliças no território brasileiro. Visto que as fruta são mais consumidas em áreas rurais e as hortaliças em regiões específicas do país, a logística é essencial para um maior aumento do consumo desses produtos.

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