Telescópio Gigante Magalhães pode revolucionar a compreensão do Universo

GMT funcionará com sete espelhos e terá capacidade de identificar planetas habitáveis fora do sistema solar. (Imagem: GMT/IAG-USP)

O Telescópio Gigante Magalhães – GMT tem proporções gigantescas se comparado aos telescópios utilizados hoje em dia. Ele será localizado no Deserto do Atacama (Chile) e tem previsão para começar a funcionar no ano de 2024. Ainda não estará totalmente pronto, mas já será possível que os cientistas realizem as primeiras observações.

O GMT será composto por sete espelhos de 8,4 metros cada, o que corresponde a um único espelho de 25 metros de diâmetro. Hoje, o primeiro desses espelhos está totalmente pronto, enquanto outros quatro se encontram em diferentes fases de desenvolvimento. Além dos espelhos, a cúpula, a estrutura responsável por proteger os equipamentos de observação, está na fase final de projeto.

Os enormes espelhos do GMT não trabalharão sozinhos. Junto a eles, irão funcionar mais sete espelhos menores, os secundários – com 1 metro de diâmetro cada um –, seis feixes de raio laser e instrumentos chamados espectrógrafos. Todos esses equipamentos combinados serão capazes de captar 100 vezes mais luz do que o telescópio Hubble e produzir imagens 10 vezes mais nítidas.

Os espelhos primários, aqueles que são maiores, são fabricados de forma muito cuidadosa e sofisticada. Isso porque, segundo João Steiner, professor do Departamento de Astronomia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP (IAG), cada um dos sete espelhos têm que formar uma “superfície matematicamente perfeita, isso é muito difícil, mas é conseguido com ótica ativa.”

Os espelhos secundários funcionam com um mecanismo um pouco diferente. Cada ponto desses espelhos irá vibrar de forma controlada, com o objetivo de compensar a turbulência da atmosfera e isso é possível com o uso da ótica adaptativa.

Um dos instrumentos mais importantes dos telescópios em geral são os espectrógrafos e eles são considerados o “cérebro dos telescópios”, segundo Steiner. São instrumentos extremamente sofisticados e tecnológicos. Eles são os responsáveis por decompor a luz nas faixas dos espectros eletromagnéticos e em altíssima resolução, o que, segundo ele, permite que se possa “observar uma estrela, ver esse astro dançando em torno do centro de massa de um sistema que contém um planeta do tipo Terra. Com isso, a gente pode medir a massa desse exoplaneta.”

Uma das inovações mais importantes trazidas pelo telescópio será, na opinião de Steiner, a qualidade das imagens obtidas. “Logo de início, teremos um espectrógrafo de altíssima precisão que combinado com a grande área coletora será uma inovação extremamente importante para a observação de exoplanetas”, afirma.

O vídeo abaixo mostra com detalhes como será a estrutura do telescópio.

Passado e futuro

O gigante telescópio, além de oferecer aos cientistas e mesmo à população imagens nunca antes registradas, vai trazer também respostas nunca antes descobertas. Além das inovações tecnológicas, o equipamento permitirá que se observe o passado do universo e que se estude possíveis evidências de vida em outros planetas.

Steiner afirma que hoje é possível que se observe uma galáxia a 2 bilhões de anos-luz de distância, o que significa, que de certa forma, o que está sendo observado é um passado de 2 bilhões de anos dessa galáxia. Com o GMT, será possível observar galáxias a uma distância de 11 bilhões de anos-luz. “A luz dessas galáxias, que estão em formação, foi emitida 11 bilhões de anos atrás, quando o universo tinha apenas 2,8 bilhões de anos de idade. Vamos poder observar o universo nessa fase e mais jovem ainda, quando ele tinha 1 bilhão de anos de idade, 1,5 bilhão, que foi a época em que se formaram as primeiras estrelas e as primeiras galáxias”, afirma. “Observando na prática esse tipo de objeto, nós podemos decidir entre diversas teorias de formação de estrelas e de galáxias.”

Encontrar vida fora do planeta Terra está em constante discussão, porém, segundo o professor, nunca foi descoberto nenhum sinal disso. Os equipamentos até então construídos não têm essa capacidade, esse alcance e toda a tecnologia em relação à nitidez de imagens como o GMT terá.

Quando o gigante entrar em funcionamento será o momento em que os cientistas poderão detectar exoplanetas que apresentem moléculas de água em estado líquido e oxigênio, o que significa uma evidência clara de vida. “Se isso for detectado, teremos subido um degrau no nosso conhecimento do universo e sobre evidência da existência de vida. Nós poderemos dizer onde existem as primeiras evidências de vida, a que distância estão, em que planeta estão e, a partir daí, assumir um segundo desafio e ver mais sinais de vida. Sinais mais complexos, porque saberemos onde procurar”, explica Steiner.

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