Preservação surpreendente de rochas é descoberta em Tapajós

Formações de mais de 1,8 bilhão de anos encontram-se em estágios de conservação inéditos no sudoeste do Pará

Visita à antiga cava de garimpo para reconhecimento das rochas e coleta de amostras na Região do Tapajós. Foto: Lucas Cassini

O mundo como conhecemos hoje é o resultado de, aproximadamente, 4,5 bilhões de anos de mudanças geológicas, físicas e químicas. Na realidade, o processo de constituição do ambiente terrestre é contínuo e constante. Um dos seus principais agentes é o intemperismo, que desgasta as formações geológicas e transforma as paisagens através de fatores externos por milhares de anos. Quanto mais antiga for a formação, maior é o nível de deterioração que ela sofreu. Porém, não foi esse cenário que um grupo de pesquisa do Instituto de Geociências da USP (IGc) encontrou no sudoeste do Pará.

A região, conhecida como Tapajós, abriga rochas formadas entre 2 e 1,8 bilhões de anos, mas que, para a surpresa dos pesquisadores, estão muito preservadas. “Esperaríamos uma rocha muito mais desgastada, já que foi formada a 2 bilhões de anos. Mas é ao contrário. Vemos rochas da superfície preservadas. O nível de conservação no Tapajós é gigantesco e não sabemos como explicar”, afirma Lucas Cassini, um dos integrantes do grupo.

As rochas do local assemelham-se muito às encontradas na região dos Andes. O inusitado é que as formações geológicas andinas são muito mais recentes do que as de Tapajós e, mesmo assim, as rochas brasileiras estão igualmente, ou até melhor, preservadas. Hipóteses estão sendo levantadas, explica Lucas. Mas a questão ainda é muito embrionária para ser firmada como certeza. Uma das explicações mais plausíveis desenvolvidas pelo grupo é que ali, anteriormente, haveria uma camada grande de sedimentos por cima das rochas, que haveria sofrido anteriormente a ação do intemperismo.

E essas rochas não apenas estão altamente preservadas, como também possuem indícios de depósitos minerais próximos à superfície. Em termos geológicos, esse tipo de deposição menos profunda é chamado de “pórfiro”, e os minerais normalmente concentram-se em profundidades entre dois e três quilômetros. Porém, outro fato instigante de Tapajós é que as ocorrências minerais estão a menos de um quilômetro, muito mais raso do que o esperado.

As circunstâncias são tão inéditas que estudiosos estrangeiros chegam a desacreditar nos modelos brasileiros. “Eles dizem ‘depósitos do tipo pórfiro não são mais antigos do que 1,6 bilhão de anos, é impossível ter mais antigo que isso’”, comenta Cassini, que assegura: Os nossos são de 1,8 bilhão”.

Potencial econômico de Tapajós

No meio de rochas tão preservadas, também foram encontrados anomalias de metais preciosos. Há indicações da presença de ouro, cobre e molibdênio, elementos típicos de rochas vulcânicas, formadas pela subducção das placas tectônicas. A equipe de pesquisa percebeu que a região do Tapajós possui uma fertilidade muito grande para esses metais preciosos, altamente explorados por indústrias e pelo mercado financeiro.

Amostra com alteração hidrotermal, indicativa de percolação de fluidos magmáticos. Comumente hospeda a mineralização de ouro. Foto: Lucas Cassini

O fato das rochas estarem muito bem preservados também agrega no potencial econômico da região, já que a extração dos metais é facilitada. “Indica que o material bom está por ali perto, basta achar. Tem muito potencial ainda não descoberto na região e justifica que nosso trabalho continue sendo feito”, alega o pesquisador.

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