Cuidado pré-concepcional pode diminuir mortalidade materna e infantil

Tratamento de doenças, estilo de vida saudável e orientações destinadas a homens e mulheres no período que antecede a gravidez diminuem riscos de agravos durante a gestação e após nascimento

Imagem: Pixabay

A mortalidade materna e infantil é algo preocupante no mundo e no Brasil. Para os casais interessados em engravidar, os cuidados pré-concepcionais são medidas responsáveis pela promoção de saúde e prevenção de agravos, que podem contribuir para a redução da morbimortalidade – taxa de mortes e doenças – materna e infantil. Apesar disso, como comprovado em dissertação realizada por Natália de Castro Nascimento, da Escola de Enfermagem da USP, grande parte das mulheres com gravidez planejada não conheciam a oferta desse serviço, e as 62,1% que realizaram a preparação possuem alta renda e escolaridade, além de serem mais velhas e apresentarem quadro de infertilidade.

“É importante reconhecer que para que mulheres e homens tenham acesso a serviços de cuidado pré-concepcional e, assim, possam melhorar seus resultados maternos e infantis, há necessidade de melhor formação dos profissionais de saúde e melhores incentivos estruturais para a oferta do cuidado pré-concepcional”, completa Natália.

Os países ainda têm autonomia para estabelecer medidas adicionais que sejam localmente relevantes, como a atuação em casos de exposição ao vírus Zika (Crédito: Laura Raffs)

Para tentar contribuir na reversão desse quadro, a pesquisadora está elaborando sua tese de doutorado, que através da intervenção educacional, visa maior preparação e conhecimento dos profissionais de saúde da atenção primária para a oferta dos cuidados pré-concepcionais. O método está sendo desenvolvido pela pesquisadora e é baseado no sistema pedagógico de Paulo Freire, com proposta de intervenção por meio de três módulos. A reflexão crítica será gerada a partir de discussões sobre o impacto do cuidado pré-concepcional nas taxas de mortalidade materna e infantil de acordo com o perfil epidemiológico local, as ações de saúde que fazem parte do cuidado pré-concepcional e as formas de oferecer o cuidado pré-concepcional de acordo com a realidade do serviço de saúde.

Dessa forma, Natália procura aumentar o conhecimento e prática assistencial dos cuidados pré-concepcionais pelos profissionais de saúde para que novos casais que planejam uma gravidez saibam das medidas de saúde do cuidado pré-concepcional e possam se preparar para a gravidez.

A pesquisadora ainda defende a aprimoração do cuidado pré-concepcional dentro da assistência a saúde sexual e reprodutiva no SUS, já que esse serviço se propõe a perpassar as diferentes classes sociais e diferenças individuais garantindo a universalidade do cuidado em saúde.

“Por conta de sua importância nas condições de saúde materna e infantil, o cuidado pré-concepcional deve fazer parte das práticas cotidianas dos serviços de atenção básica no País”, defende. Um desafio necessário para que as mulheres, em especial as que planejam engravidar, saibam que existe o cuidado pré-concepcional e identifiquem os serviços de saúde como espaço para buscá-lo.

O estudo de Natália de Castro Nascimento sobre os cuidados pré-concepcionais se iniciou no trabalho de conclusão de curso, em que suas inquietações e motivações levaram a investigar a adaptação brasileira e aplicação do instrumento britânico que mensura o planejamento da gravidez London Measure of Unplanned Pregnancy (LMUP) entre adolescentes e averiguar o conhecimento e a prática do preparo pré-concepcional entre mulheres desse grupo que vivenciaram uma gestação. Como resultado, o LMUP mostrou que faltava, entre as adolescentes, o conhecimento sobre quais seriam as medidas pré-concepcionais indicadas para melhorar a sua saúde materna e do bebê e, por isso, poucas relataram ter tomado qualquer medida para se preparar para a gravidez.

Natália afirma que todo o trabalho chegou a uma diretriz: “O período que antecede a concepção é um momento crucial para o desenvolvimento de uma gravidez saudável, com efeitos positivos na saúde materna e infantil, impactando, sobretudo, nas mortes maternas por causas indiretas e nas mortes neonatais, sendo necessário implantar ações de promoção da saúde, prevenção de agravos e tratamentos de morbidades antes da concepção”.

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