Trabalho de diplomata divulgou Brasil e preveniu invasões imperialistas

Oliveira Lima foi o pioneiro na divulgação da recém formada nacionalidade brasileira e ponte para transmissão de conhecimento entre o Brasil e outros países.

Imagem: montagem com pintura de Carlos Chambelland (1884-1950)

A visão estrangeira — tanto europeia quanto norte-americana —  foi alterada por conta de um diplomata pouco conhecido, porém muito importante na história do Brasil. O recifense Manuel Oliveira Lima divulgou a cultura brasileira, levou conteúdos do país para o exterior, e, possivelmente, evitou que o território fosse invadido em meio ao discurso imperialista.

A função de diplomata é histórica. Desde que se existem reinos e Estados, pessoas são incumbidas de fazer acordos e tratados por governantes em outros territórios. Porém, Oliveira Lima foi o diplomata que inaugurou a modalidade carreira institucional que, além de cuidar das questões políticas, também divulgava a cultura e os pensamentos sendo discutidos no Brasil.

Durante sua carreira, Lima viajou pelo mundo — do Japão à Alemanha — fazendo discursos que expunham sua opinião sobre o que era o Brasil, como foi construída sua história e passando elementos da cultura brasileira. Ademais, foi o primeiro brasileiro a dar aula na Universidade de Sorbonne, na França, lecionando sobre a história do Brasil, o que elevou seu status como intelectual.

Tudo isso concomitantemente aos fervorosos debates que aconteciam entre os intelectuais brasileiros para definir o que era a nação brasileira, como foi formada, o que era o povo brasileiro e tópicos que giravam desses assuntos. Por sempre estar no exterior, Oliveira de Lima não podia estar presente nessas discussões, então, encontrou seu modo de participar delas: expondo seus argumentos fora do País.

Essa análise foi possibilitada pelo pesquisador Guilherme Souza Carvalho da Rocha Freitas, que, no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP, estudou os discursos e cartas do diplomata na época, conseguindo encontrar evidências de que a divulgação de Lima alterou a visão dos intelectuais estrangeiros sobre o Brasil. “Com isso, ele faz duas coisas ao mesmo tempo: se posiciona diante de um debate que está acontecendo no Brasil e divulga uma certa visão para os europeus ou os norte-americanos.”

O “homem de letras” — termo usado para identificar intelectuais na época — tinha grande influência nos debates brasileiros. Além disso, foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras — que até hoje tem grande prestígio na sociedade literária — e era membro participante do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro (IHGB), organização de prestígio até o presente.

Amigo próximo de Machado de Assis, Lima conseguiu mostrar, principalmente aos europeus, que o Brasil era civilizado e capaz de produzir sua própria intelectualidade. Em correspondência com Assis, foi possível identificar que o diplomata visava divulgar as produções do amigo e colocá-lo como gênio da escrita brasileira. “Ele conectava as ideias dos intelectuais brasileiros com as dos intelectuais da França, de Londres, ou, em outro momento da vida dele, dos Estados Unidos”, segundo Guilherme.

Com essa divulgação, o ideário de colônia bárbara que os europeus ainda guardavam sobre a população brasileira, começou a se alterar e foi compreendido que — por ser uma continuação de Portugal mesmo após a Independência — o Brasil já era civilizado e produtivo no quesito intelectual. “É como se ele desse um argumento que invalidasse qualquer pretensão imperialista de invasão da parte dos europeus ao Brasil”, cita o pesquisador. Isso pode ter evitado uma possível invasão dos europeus por motivos geopolíticos.

Por conta da diplomacia, foi possível uma troca de conhecimento entre os países, principalmente a França. Por ter um sistema educacional já bem consolidado na época, era de interesse dos franceses instalar universidades, liceus (semelhantes a colégios de ensino médio hoje em dia) e escolas de língua francesa, objetivando atingir mais pessoas com a cultura francesa. Portanto, a disseminação das ideias brasileiras no exterior não era uma via de mão simples para a população. Muito foi trazido para o país nessa época graças a ponte que foi criada por Oliveira de Lima.

Para a divulgação no próprio País, eram publicadas partes de seu discurso no jornal O Estado de S. Paulo e em formato de livros, ajudando na disseminação das ideias de Lima sobre a brasilidade.

Por ser apaixonado por livros, o intelectual colecionou muitos deles durante sua vida. Com isso, montou um dos maiores acervos sobre o Brasil, contendo livros, correspondências, recortes de jornais e outras relíquias. Hoje, a Biblioteca Oliveira Lima está instalada em Washington, nos Estados Unidos, e tem grande relevância para contar a história do Brasil para o mundo. Além disso, foi por meio de créditos dados à biblioteca americana que o pesquisador Guilherme entrou em contato com Oliveira Lima e deu início a sua pesquisa, conseguindo divulgar o nome desse grande influenciador da cultura do País.

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