Acervo bibliográfico do MAC dobra com doação de Walter Zanini

Professora Cristina Freire fala sobre o fruto dos mais de 60 anos de pesquisa do professor, "Walter Zanini: escrituras críticas"

Capa da obra ganhadora do Jabuti, "Walter Zanini: Escrituras Críticas" (Imagem: Reprodução)

A biblioteca do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP) recebe, após um processo de cinco anos, o acervo da Biblioteca Walter Zanini. O primeiro diretor do museu sempre quis doar sua coleção, como conta a professora Cristina Freire. Serão acrescentados 12 mil exemplares aos 9 que já configuram a Biblioteca Lourival Gomes Machado.

De acordo com Lauci Quintana, bibliotecária do Museu, o acervo bibliográfico da instituição tem grande relevância. “Perfaz um acervo diferenciado das unidades de ensino. O acervo museológico, especificamente o nosso, contempla tanto a coleção circulante, que o aluno tem acesso no Dedalus, quanto a coleção de artistas”. Essas coleções consistem no acompanhamento de exposições, trabalhos e notícias dos aproximadamente 400 artistas que possuem obras de arte no MAC, criando uma base de dados atualizada. Somado a isso, explica Lauci, “o Museu não é uma unidade de ensino, o enfoque é muito mais na pós-graduação”, o que configura um acervo mais especializado.

Lauci é bibliotecária e responsável por parte da pesquisa dos livros de artistas (Imagem: Amanda Péchy/AUN)

A biblioteca, que nasceu junto ao Museu em 1963, é essencial para seu funcionamento. “A bibliotecária foi uma das primeiras funcionárias contratadas”, conta Lauci. Além de ser um espaço de acolhimento para o visitante, como ela ressalta, trabalha a par e passo com as exposições e ampara todos os cursos de pós do MAC. A doação vai complementar o que já existe na biblioteca, já que o professor era historiador, curador e crítico de arte. A bibliotecária explica que a Zanini e a circulante serão duas coleções diferentes, mas ambas poderão ser encontradas no mesmo banco de dados.

Cristina conta que a contribuição do pesquisador se relaciona ao livro Walter Zanini: escrituras críticas, no qual trabalharam de 2006 a 2013, quando ele faleceu. “Quando comecei a trabalhar com Zanini e as exposições, observei que faltava uma bibliografia específica e achei que seria importante”, ela diz. Walter trabalhava muito com textos de catálogo e xerox, apesar ter publicado volumes importantes para a arte brasileira, como A história geral da arte no Brasil – 2 Volumes. “Queria ter material para meus alunos, então resolvi procurá-lo para fazer um livro com seus textos de arte contemporânea, curadoria, trazer um pouco do histórico do Museu na década de 70”. Walter aceitou, com a condição de que fosse um trabalho conjunto e que os textos escolhidos por Cristina pudessem ser reescritos, se ele achasse necessário.

Livro da artista Tomie Ohtake, presente no acervo do MAC-USP, com recortes de notícias sobre suas exposições e informações sobre obras (Imagem: Amanda Péchy/AUN)

O livro ganhou o Prêmio Jabuti 2014 na categoria Artes e Fotografia. É um conjunto de textos escritos ao longo da trajetória de Walter Zanini, alimentados pelo seu próprio acervo. Muito de sua produção ocorreu enquanto deu aulas no departamento de Artes Plásticas da Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP), e depois, quando se tornou o primeiro professor titular a virar diretor da unidade de ensino (os diretores anteriores não eram professores da unidade).

“É um histórico da ideia do Zanini do que é um museu, e um livro de referência para o conhecimento dele”, diz Cristina. Ela conta que o professor era uma pessoa humilde, que não gostava de autorreferência: “Demorei muito para convencê-lo de que seria importante fazer um livro sobre seu trabalho”. Foi convencido apenas com os argumentos de que, se ninguém o fizesse, “não precisaria nem de duas gerações, ninguém iria mais saber. É importante ter documentos, adensar a história, ter clareza dessa história para novas gerações poderem aprender e ter referências.”

Arquivo da biblioteca MAC-USP (Imagem: Amanda Péchy/AUN)

Zanini acabou não vendo o livro pronto, mas o desejo de doar sua biblioteca se concretizou. “Foram anos de trabalho insistindo para que essa biblioteca viesse para cá, para não corrermos o risco de perdê-la”, diz Cristina. “Esse ano, finalmente vai acontecer. Me sinto com a missão cumprida.”

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