Resposta elevada de estresse compromete memória

Nível aumentado de cortisol liberado em situações críticas pode impactar nas habilidades cognitivas e resultar em doenças futuramente

Estudo pode minimizar problemas cognitivos (Imagem: Pixabay)

Apesar de o estresse ser essencial para o funcionamento do organismo, uma resposta a exposição aguda a esse estímulo impacta o sistema cognitivo, o que pode causar, em longo prazo, demências, como a doença de Alzheimer. Ou seja, o estresse agudo, ativado por situações críticas, é um fator de risco para desenvolvimento de enfermidades relacionadas à cognição, principalmente na formação de memórias, já que as estruturas que medeiam este processo são a mesmas que atuam na resposta ao estresse.

O resultado é da dissertação de mestrado de Andréa Regiani Alves, com a orientação da professora Juliana Nery de Souza-Talarico na Escola de Enfermagem da USP. Com início em 2009, pessoas na faixa dos 50 anos realizaram testes em que eram expostas a situações de estresse agudo, a fim de verificar o impacto do cortisol, principal hormônio produzido na resposta ao estresse, no comprometimento cognitivo. Para isso, fatores comprovados de risco foram controlados.

A pesquisa foi construída pela Escola de Enfermagem em parceria com pesquisadores do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento (GNCC) da Faculdade de Medicina da USP, da Unifesp e da Université de Montreal, no Canadá.

Os participantes não possuíam doenças neurológicas ou psiquiátricas, não eram fumantes, não tinham história de abuso de álcool, não faziam uso de medicações que interferissem na função cognitiva ou na resposta biológica do estresse. Além de realizarem previamente testes de avaliação cognitiva – na função da atenção, memória e linguagem – emocional e funcional, para assegurar que eram saudáveis, pois possuíam um desempenho semelhante a pessoas da mesma faixa etária.

Cinco anos depois, as pessoas foram reavaliadas pelos neurologistas e foi comprovado que as que desenvolveram o comprometimento cognitivo foram aquelas que tinham uma reação exagerada de estresse (hiperresponsividade) em comparação aos outros participantes. “A concentração de cortisol, produzida durante o teste de estresse, foi duas vezes maior nas pessoas que desenvolveram em comparação às que não”, comenta a pesquisadora.

Além disso, a orientadora explica que, mesmo controlando fatores comprovados de risco, observa-se que a concentração de cortisol durante a reação aguda de estresse está de fato associada com o desenvolvimento de comprometimento cognitivo.

Investigado os efeitos, o nível de cortisol em resposta a uma situação de estresse agudo pode predizer futuros comprometimentos em habilidades cognitivas, como memória e atenção. O processo de degeneração do cérebro acontece antes do indivíduo ser idoso e manifestar queixas de memória. Então, quando algum fator é detectado em uma idade anterior aos 60 anos – considerado idoso pela Organização Mundial da Saúde (OMS) – os efeitos sobre a cognição podem ser controlados.

“Após identificar fatores de risco em períodos que antecedem a manifestação da doença, seremos capazes de detectar grupos que possuem uma vulnerabilidade maior e traçar estratégias para minimizar e retardar o prejuízo cognitivo, proporcionando maior qualidade de vida aos pacientes”, esclarece a orientadora.

Por isso, foram recrutados pessoas na faixa dos 50 anos, uma vez que estruturas responsáveis pela formação de memória já estão em processo de declínio de função e, por isso, são mais vulneráveis aos efeitos negativos do estresse. “Incluir pessoas não idosas mostrou que os efeitos podem ser mais precoces do imaginamos”, afirma Juliana Nery de Souza-Talarico.

“Assumir ao longo da vida atitudes positivas com prática de atividade física, alimentação balanceada, suporte social e emocional pode contribuir para contrabalancear os efeitos cumulativos do estresse, retardar o envelhecimento cerebral e, quem sabe, prevenir transtornos cognitivos”, comenta Andréa Regiani Alves.

Agora, a perspectiva é finalizar a redação do artigo e expor os resultados da pesquisa em revistas científicas para divulgação do material, que também será exposto no Congresso da International Society of Psychoneuroendocrinology, em setembro na Califórnia.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*