Na visão de um divulgador

Para contar um pouco de sua trajetória e comentar sobre a divulgação científica (principalmente online) no Brasil, conversamos com o estudante de biologia Leonardo da Costa Carvalheira, apelidado de Watson, um dos criadores do canal Dispersciência do YouTube.

Divulgador diz que uma das metas é cobrir divulgação presencial em escolas públicas. Foto: Marcos Santos (USP Imagens)

[1] Por Carolina Pulice, José Paulo Mendes, Julio Viana e Maiara Prado

Para contar um pouco de sua trajetória e comentar sobre a divulgação científica (principalmente online) no Brasil, conversamos com o estudante de biologia Leonardo da Costa Carvalheira, apelidado de Watson, um dos criadores do canal Dispersciência do YouTube.

Maiara ao lado de Watson, um dos criadores do canal Dispersciência do Youtube

O que você mais gostava de fazer quando era criança?

Gostava de jogar Hagi Naroki; jogava muito jogo online e acho que isso influenciou bastante minha carreira como cientista e divulgador científico, porque a maioria das coisas era num quesito investigativo. Mas também gostava de fazer coisa que qualquer criança gostava… jogar bola, pega-pega, era uma criança normal nesse aspecto.

O que motivou a começar a divulgar ciência?

Desde que entrei na USP eu vi que (a universidade) não é tão aberta quanto “é vendido”, e sempre tive o anseio de compartilhar o que aprendo aqui com a população em geral, com quem não tem acesso à universidade. Fazer pesquisa, ficar ‘enfurnado’ todos os dias cultivando células me fez questionar também por que estava fazendo isso, se não deveria me esforçar mais para atingir esse público (externo). Fui muito influenciado pela galera que desbravou o YouTube: Pirula, Átila, Yuri Grecco; me influenciaram até a fazer biologia.

Qual é a sua opinião sobre o alcance da divulgação online e presencial no País, atualmente?

A gente tem muita dificuldade de ter impacto nas redes sociais; são pontos fora da curva que conseguem ter um bom impacto e furar a bolha, e normalmente são iniciativas no YouTube que fazem divulgação científica comendo pelas beiradas. Não mostrando de cara: “estou falando de ciência”. Normalmente, toda divulgação científica que tem essa característica é mais efetiva, tanto por meios físicos quanto em meios da internet. O USP Talks, por exemplo, está sendo muito efetivo, primeiro porque acontece fora da Universidade, na avenida Paulista; segundo porque lota de gente sempre, e muita gente que não é da academia.

O que é, para você, divulgar ciência?

Divulgar ciência, para mim, é ter noção de que não só a divulgação, mas a ciência em si é bidirecional; os cientistas não vão levar a luz para o povo leigo, mas sim compor um grande fluxo de informação com a galera de fora da academia. A gente tem muito a aprender com o seu estilo de comunicação, pois temos muita dificuldade nisso. Só assim a gente consegue conectar mesmo com o dia a dia das pessoas, que é nosso grande objetivo na divulgação científica.

O primeiro projeto de divulgação científica do qual você fez e ainda faz parte é o Dispersciência. O que é esse projeto?

É um projeto que reúne alguns colegas da biologia USP, e nosso ideal é formar uma rede entre os pesquisadores e a população em geral. Para isso, a gente faz vários vídeos levando pesquisadores, outros divulgadores do YouTube e podcasters, além de outros trabalhos presenciais. A gente tem a filosofia da divulgação horizontal.

O que você considera que são fraquezas do Disperciência?

Vários… A mais relevante é (falta de) experiência, porque são todos (alunos) de graduação. A gente também não cobre uma divulgação presencial como a gente gostaria, em escolas públicas, em lugares públicos; temos pretensão, mas ainda não fazemos isso.

Como seria um mundo ideal em termos de divulgação científica?

Primeiro, que os divulgadores ganhassem dinheiro pelo que eles fazem, que eles tivessem reconhecimento institucional, principalmente das agências de fomento brasileiras. Se você tem trabalhos maravilhosos de divulgação, isso não pesa no seu currículo lattes. Nos Estados Unidos, basicamente se você não faz divulgação científica você não recebe dinheiro pela sua pesquisa, por isso todos os pesquisadores são super atenciosos com jornais e outras mídias de massa. Isso é bom, porque as pessoas aprendem a fazer divulgação e a se importar com isso, mas a pesquisa de base sofre com os mesmos problemas que aqui no Brasil, porque os resultados não são imediatos, então é mais difícil de conectar a importância disso com as mídias e com as pessoas. O ideal seria alguma coisa mediana a isso, com investimento do Estado na ciência de base e um investimento também privado – que a gente sofre muito no Brasil para conseguir.

[1] Todas as grandes reportagens desse ciclo são datadas e foram escritas ao longo do primeiro semestre de 2018 até o seu término.

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