Aumento nas áreas de preservação em torno de rios beneficia produtores rurais

Aline e sua equipe de pesquisa analisaram modelos hidrológicos simulados no framework JAMS (Jena Adaptable Modelling System)/ Arquivo pessoal

Um estudo conduzido no Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Escola Politécnica da USP mostrou que, quanto maior a extensão de Áreas de Proteção Permanente (APPs) em torno de bacias hidrográficas, mais constante é a vazão de águas ao longo do ano no local. A pesquisa, conduzida no âmbito do doutorado da engenheira ambiental Aline Ribeiro Machado, simulou nove cenários diferentes de APP para chegar ao resultado que melhor atende às necessidades de preservação de bacias rurais.

As APPs, previstas no Novo Código Florestal Brasileiro (Lei Federal n°12.651/2012), são áreas, com cobertura de vegetação nativa ou não, destinadas à proteção ambiental. As margens de cursos d’água, por exemplo, devem ser protegidas por uma faixa mínima com variação entre 30 e 500 metros a ser definida de acordo com o tamanho do curso. O objetivo da tese construída por Aline é justamente auxiliar na delimitação de áreas florestadas em torno de bacias hidrográficas rurais de modo a possibilitar o oferecimento do máximo de serviços ecossistêmicos prioritários a esse tipo de região.

Em sua tese, finalizada em junho de 2017 e intitulada “Alternativas de restauração de Florestas Ripárias para o fornecimento de serviços ecossistêmicos”, Aline afirma que mais da metade da vegetação nativa do Brasil está presente em propriedades privadas. Levando em conta esse fator, é proposta uma metodologia para o planejamento de APPs que envolva a percepção e opinião dos proprietários e maximize o número de serviços ecossistêmicos oferecidos a eles para incentivar a preservação.

“Para simplificar, serviços ecossistêmicos são serviços ambientais. Ou seja, são atividades que os ecossistemas realizam naturalmente e que beneficiam os seres humanos”, explica a engenheira. O processo de absorção e filtração da água feito pelo solo coberto com vegetação nativa, por exemplo, é um serviço ecossistêmico de regulação.

Durante a pesquisa, Aline foi a campo e construiu seu trabalho com a ajuda de entrevistas com proprietários rurais da região da microbacia do córrego Cavalheiro, um dos afluentes do Rio Corumbataí, em Analândia, São Paulo. Feitas em meio à crise hídrica que atingiu o Estado de São Paulo entre os anos de 2014 e 2016, as entrevistas surpreenderam a engenheira. “Antes das conversas, imaginava que o produtor seria contrário a um aumento de APPs em sua propriedade, mas isso não correspondeu à realidade. Percebi que eles priorizavam a questão da regulação hídrica pois a constância na vazão do córrego era importante para sua produção”, contou.

Com o foco dos trabalhos voltados então para a regulação hídrica e através de um projeto de capacitação realizado no Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo, instituição na qual a engenheira ambiental é pesquisadora, o software JAMS (Jena Adaptable Modelling System) foi utilizado na construção de um modelo hidrológico para a bacia piloto do córrego Cavalheiro.

Por meio da simulação hidrológica de cenários de uso e ocupação do solo, foi possível perceber que, com faixas de preservação superiores a 100 metros de distância da margem, a vazão de água se mantinha razoavelmente constante ao longo do ano. Com isso, poderiam ser evitadas situações de alagamentos no período de chuvas ou de falta de água nos períodos mais secos, como o inverno, que prejudicam a produção do proprietário rural.

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