Games científicos podem ser alternativas para melhora no ensino de ciências

Estudo fornece diretrizes para saber quais jogos digitais podem ser aplicados em sala de aula

Pesquisador cria matriz que direciona educadores na seleção de jogos em sala de aula. Fotos e ícones: FreePik e Flaticon/ Montagem: Beatriz Gomes

É possível que jogos ou elementos imersivos ajudem estudantes no entendimento de conceitos científicos aplicados em sala de aula? Como saber se um jogo tem recursos interessantes a serem aplicados nas escolas? São a partir destes questionamentos que Tiago Bodê, mestre pela Faculdade de Educação da USP, desenvolveu sua dissertação Games científicos: bases epistemológicas e princípios de design didático.

Em sua pesquisa, Bodê desenvolve uma matriz, denominada Games científicos, que fornece base teórica para os responsáveis pela construção dos jogos, empresas que desejam construir games voltado à educação ou pessoas interessadas em aplicar essa ferramenta no ambiente escolar, podem utilizar para analisar se os jogos já disponíveis no mercado comercial têm potencial educativo.

Os conteúdos presentes na matriz criada pelo pesquisador se referem, primeiro, a relação da montagem estrutural do jogo com o conteúdo educativo. Segundo, a imersão dos jogadores dentro da estrutura narrativa dos games. E, por fim, a arquitetura do jogo com base em quais meios são necessários para jogar, ou seja, se é jogo de corrida, tiro, se há necessidade de mouse e teclado, entre outros elementos.

Jogos na escola

Em seu doutorado, Bodê destaca que dois pontos são essenciais para a aplicação dos jogos no cotidiano escolar. O primeiro se refere a necessidade do entendimento da aplicabilidade dos jogos nas aulas como algo fundamental, justamente porque neste momento é possível relacionar “o processo de construção do conhecimento dos conceitos ensinados nas etapas de aprendizagem em sala de aula” junto com os ensinamentos trazidos por essa ferramenta digital. O segundo ponto é o espaço fornecido dentro do game para a resolução das perguntas propostas ao longo do jogo, assim como ocorre no processo de pesquisa científica onde há um espaço para a resolução dos problemas propostos.

Apesar das contribuições positivas dos jogos no cotidiano escolar, principalmente, na capacidade de elucidar muitos pontos de difícil entendimento nas ciências, o pesquisador explica que implementar essa atividade nas escolas é muito difícil, mesmo estando numa sociedade onde temos informação e comunicação em todos os lugares, o avanço tecnológico aplicado à educação é muito pequeno.

Ele pontua que, em escolas particulares, boa parte dos conteúdos são voltados para o vestibular e às escolas entendem que colocar um momento voltado ao ensino com jogos seria perda de tempo. Nas escolas públicas há professores mal remunerados e que possuem cargas horárias muito extensas, então é difícil reunir um grupo em determinado momento para poder discutir sobre como aplicar esta prática em sala de aula. Por fim, Bodê destaca que essas dificuldades presentes na escola pública não acontecem somente com a implantação de games, mas para qualquer outro projeto que venha a ser inserido na escola.

Professores e tecnologia

Apesar de dificuldades estruturais, o pesquisador acredita que muitas pessoas não entendem como os jogos poderiam ser aplicados nas aulas, e percebem isso como uma forma que pode atrapalhar ao invés de ajudar no ensino. Isso pode acontecer com professores mais antigos que se formaram antes do surgimento da internet que, por não terem muito conhecimento sobre a aplicabilidade da tecnologia em sala de aula, ficam receosos pelos alunos já terem conhecimentos avançadas sobre o mundo tecnológico. Já outros docentes, reconhecem a importância de trazer a tecnologia às escolas, porém, não sabem como aplicar isso na sala de aula.

Bodê pondera que a nova geração de pessoas formadas, nascidas na era da tecnologia, pode ser um caminho para trazer essas novas ferramentas ao cotidiano dos alunos. Segundo o pesquisador, já passamos da época a qual havia muitas opiniões contrárias ao uso da tecnologia na sala de aula. “Hoje vejo que a tendência é que a tecnologia está cada vez mais aceita, mas ela ainda é um processo de difícil implementação”. Ele acredita que, apesar de muitos docentes enxergarem a modernização com bons olhos, as dificuldades para implantá-la nas escolas ainda são grandes. O principal desafio é, portanto, encontrar maneiras de aplicá-la de forma positiva nas escolas.

Um dos caminhos para compreender a relevância dos games seria as pessoas entenderem que os jogos não substituem o conteúdo ensinado em sala de aula. Mas podem ser utilizados como ferramentas úteis ao entendimento de conceitos complexos aos estudantes. Porém, é necessário que se tenha a mediação de um professor, justamente para os alunos perceberem como aqueles conceitos ensinados na aula são aplicados e construídos na narrativa do game e, principalmente, para os docentes analisarem se os alunos conseguiram entender os temas abordados nos games. “Os jogos servem como uma ferramenta e é necessário que você tenha um espaço de mediação”.

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