Pesquisa pretende aproximar aplicativos de portadores de deficiência

Problemas básicos de acessibilidade são identificados em aplicações móveis populares

Spotify e Facebook estão entre os aplicativos que apresentam falhas de acessibilidade. Foto: USP Imagens (www.imagens.usp.br)

Acessibilidade digital é a garantia que um meio eletrônico pode ser utilizado por qualquer pessoa, independentemente de limitações físicas ou mentais. Alguns aplicativos de celular, por exemplo, são inacessíveis para deficientes visuais por não terem adaptações para leitores de tela. Com o foco nesse tema, o professor do curso de Sistemas de Informação da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, Marcelo Medeiros Eler, deu início a um projeto de pesquisa com apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).

Em seu pós-doutorado, durante os anos de 2016 e 2017 na Universidade de Sheffield na Inglaterra, o pesquisador já havia trabalhado nessa área. Ele criou um software que testava outros sistemas operacionais, verificando quais problemas de acessibilidade existiam em algumas aplicações móveis. Segundo Marcelo, dez dos aplicativos mais utilizados do sistema Android têm problemas básicos desse quesito.

Alguns defeitos dos aplicativos podem ser, por exemplo: cores e contrastes baixos, não assimilados por deficientes visuais; áreas de cliques pequenas, que dificultam o toque por parte de portadores de problemas motores e botões sem função intuitiva, não identificados por leitores de tela que pessoas cegas utilizam. Esses problemas existem tanto em aplicações móveis privadas, como Spotify, Facebook e Playstore, quanto públicas, como os aplicativos do Metrô de São Paulo e da Nota Fiscal Paulista.

Aplicativo do Facebook apresenta baixo contraste na mensagem “No, Thanks”
Foto: material do pesquisador

O modelo criado na Inglaterra, porém, foi apenas um protótipo e verificava poucas das características que garantem o pleno acesso digital. Por isso, nesse projeto de pesquisa intitulado “Automação do teste de acessibilidade em aplicações móveis Android”, Marcelo decidiu seguir e ampliar esse trabalho em 2018 – com colaboradores da própria EACH e de outras universidades nacionais e internacionais.

Além de ampliar a verificação para as outras limitações de acessibilidade, a pesquisa pretende integrar essa ferramenta e suas técnicas ao ambiente de desenvolvimento de softwares. Isso porque, atualmente, os softwares só passam pelo teste de acessibilidade quando já estão prontos. Caso consigam ser testados ainda na fase de produção, eles podem ser finalizados com o mínimo de defeitos desse quesito possível.

O terceiro e último objetivo do trabalho é explorar novas formas de verificar automaticamente os problemas de acessibilidade dos aplicativos, uma vez que elas acontecem de forma aleatória hoje em dia. Com a pesquisa, pretende-se gerar algum tipo de inteligência que guie os testes e mostre as melhores formas de interagir com a aplicação. Dessa forma, será possível descobrir problemas mais significativos.

Para além dos quesitos técnicos, contudo, trabalhar com acessibilidade digital é uma questão de inclusão social. “Conforme vamos trabalhando e entendendo, vemos que há uma parcela significativa da população brasileira que é afetada por esses problemas”, conta Marcelo. De fato, segundo o último censo demográfico do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 45,6 milhões de brasileiros têm pelo menos um tipo de deficiência (visual, auditiva, motora ou mental/intelectual). “Existe toda uma contribuição científica e técnica, mas o impacto social que se espera também é grande”, completa o pesquisador.

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