Audionavegação devolve autonomia para deficientes visuais se locomoverem sozinhos

Estudo desenvolve método focado na voz para orientar pessoas cegas ou de baixa visão na caminhada

Falta de adaptação ainda é um fator que dificulta o deslocamento. Fonte: Divulgação/Birmingham City University

Se locomover em uma cidade de grande porte ainda é uma tarefa difícil para portadores de deficiência visual. Seguindo esse desafio, Jaldomir da Silva Filho, mestre em Ciências pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU USP), se propôs a encontrar novos modelos de orientação na dissertação Princípios para o design de audionavegação em ambientes públicos para pessoas com deficiência visual. No trabalho, o pesquisador desenvolve um método em áudio que supre as falhas dos atuais sistemas em GPS.

O método de audionavegação foi desenvolvido por Silva em parceria com a arquiteta Eliete Mariani, idealizadora do projeto, que prioriza puramente o comando por voz. Pelo sistema, a rota é definida previamente, enquanto sinais sonoros são emitidos antes de cada orientação durante o deslocamento. Recebendo os comandos, o usuário consegue se deslocar sabendo todos os pontos que estão à sua frente. O autor cita, por exemplo, que os obstáculos no caminho são descritos e, assim, os portadores do sistema escolhem como querem desviar, valorizando seu poder de escolha.

Ao visar maior autonomia para pessoas cegas ou com baixa visão, o primeiro contato do pesquisador com o tema foi em 2012, como analista de sistemas da Companhia do Metropolitano de São Paulo o Metrô. Na época, o projeto teve de ser arquivado por falta de soluções que pudessem tornar viáveis o desenvolvimento de um sistema desse tipo.

Mas, junto com Mariani, o pesquisador  pôde dar, finalmente, cara ao projeto inicial durante o mestrado. “Este sistema demanda de conhecimentos multidisciplinares de tecnologia eletrônica, de arquitetura, de psicologia e de linguagem. Na parte de eletrônica e de arquitetura estamos embasados, mas ainda faltavam conhecimentos de psicologia e linguagem utilizados principalmente nas falas que o sistema deveria entregar ao usuário com deficiência visual”, conta Silva.

Dificuldades

Apesar de já existirem alternativas de locomoção, Silva identificou que nem todas se categorizam como a melhor opção para os deficientes visuais. Os aplicativos, que em sua maioria utiliza a tecnologia GPS, possuem uma quantidade muito alta de informações visuais em seu layout, em detrimento do foco para a navegação em áudio e voz, sendo esses dados em tela inúteis para o deslocamento.

Um outro problema é a funcionalidade do sistema em locais fechados. O GPS não é capaz de mapear esses espaços com clareza e se torna um meio pouco confiável. “As informações por mapas eletrônicos têm se mostrado de grande eficiência para guiar motoristas, mas não podemos dizer o mesmo quando o assunto é guiar pessoas a pé: a precisão dos sistemas de GPS não é totalmente confiável para curtas distâncias a baixas velocidades, e esta imprecisão torna-se maior ainda nos grandes centros com edifícios”, destacou Silva.

Além disso, a própria estrutura urbana não-adaptada completamente é um empecilho para os deficientes visuais. A falta de padronização de recursos físicos, como pisos táteis, dificulta a autonomia dessas pessoas em suas tarefas do dia a dia, aponta o pesquisador. O desafio, então, era propor um método que abrangesse todos os problemas identificados e pudesse entregar uma condição nova de se locomover pela cidade.

Segurança na voz  

Na pesquisa empírica foram utilizados três ambientes para o teste do sistema: a estação de metrô Vergueiro, uma calçada a céu aberto e o Centro Cultural São Paulo. Durante os testes, a principal preocupação foi notar a possibilidade de locomoção somente por voz. “Todos os voluntários conseguiram atingir um destino predefinido, seguindo um caminho livre descrito por audionavegação em um aparelho eletrônico com voz sintetizada. É totalmente possível guiar pessoas com deficiência visual em ambientes públicos utilizando esse recurso em aparelhos eletrônicos”.

Segundo Silva, apesar das semelhanças com a audiodescrição, técnica já usada pelo cinema para descrever cenas aos deficientes visuais, a audionavegação cumpre o papel da segurança na mobilidade enquanto pedestres. O pesquisador ressalta que o método ainda é relativamente novo, mas já demonstra potencial e aceitação dentre os possíveis adeptos do sistema.

Agora, o objetivo é aprimorar ainda mais a tecnologia para continuar evoluindo na locomoção autônoma. “Esta é a proposta: buscar um design de voz, com características definidas, no objetivo de prover segurança na orientação para a mobilidade em sua circulação pelos ambientes públicos. Conseguimos confirmar a possibilidade de utilizar audionavegação”.

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