Nova política do Facebook restringe acesso a dados

Atuação de jornais na rede social reforçam a ideia de “bolha”

Acesso aos dados de páginas Facebook acaba sendo restrito Foto: James Thew / Fotolia

A chegada das redes sociais mudou profundamente a forma como o conteúdo jornalístico é divulgado e a maneira como o público chega até ele. Por isso um grupo de pesquisa composto por Daniela Oswald Ramos, professora da Escola de Comunicações e Artes da USP, Egle Müller Spinelli da Escola Superior de Propaganda e Marketing e Mário Alberto Pires de Arruda da Universidade Federal do Rio Grande do Sul decidiu analisar, a partir dos dados gerados por páginas do Facebook, como se dá a atuação de organizações jornalísticas nessa rede social.

O trio decidiu usar o jornalismo independente, ou seja, aqueles que não são controlados ou produzidos pela grande mídia, como recorte para análise e observar qual o impacto da rede social para estas práticas jornalísticas. Os veículos escolhidos foram Jota e Meio, que são brasileiros, e o Nómada, da Guatemala. As considerações da pesquisa foram disponibilizadas no artigo Acesso aos dados do Facebook e o jornalismo independente da América Latina de autoria dos professores, publicado na revista Extraprensa, que conta o processo de análise de dados obtidos através das pages desses veículos.

Ao tentar acessar os dados gerados pelo Facebook, um problema aconteceu. As duas mídias brasileiras, Jota, que cobre os bastidores do meio jurídico, e Meio, newsletter, tinham informações privadas que não podiam ser totalmente acessadas. Além desse problema, após o escândalo envolvendo o Facebook, Cambridge Analytica e a venda de dados privados pela rede social, o próprio aplicativo tornou o acesso aos dados ainda mais restrito. O escândalo estourou em maio deste ano quando o The Guardian, o The New York Times, mostraram que políticos usaram dados fornecidos pela Cambridge em comunicação com o Facebook para manipular a opinião pública.

Como o Facebook restringiu o acesso, Daniela Oswald conta que os pesquisadores foram atrás de outras ferramentas que extraíssem dados. As ferramentas inicialmente usadas eram gratuitas, mas estas só funcionaram com a página do Nómada, pois era a única página a ter os dados abertos antes da restrição do Facebook. Para as mídias brasileiras escolhidas, outras ferramentas tiveram que ser procuradas. A escolhida foi Social Monitor, já utilizada por jornais brasileiros para identificar o engajamento do público. Com uso de ferramentas diferentes, os resultados obtidos também foram distintos, prejudicando a comparação e a compreensão do significado de tais dados para a pesquisa.

A ferramenta utilizada para extração da Nómada foi a Netvizz. O aplicativo Gephi gerou grafos, como nomeia a pesquisadora Daniela, a partir dos dados extraídos. Esses grafos formam uma rede de curtidas, mostrando as páginas que o jornal curtiu e as que curtiram o guatemalteco. Para além disso, os gráficos também mostram as curtidas das páginas que deram like no jornal.

As ligações entre Nómada, meio jornalístico que aborda cotidiano e política, Wakami Guatemala e VIVA Ideia se interligam e se fecham em si, formando uma bolha. Ao analisar as bolhas, os pesquisadores perceberam que todos os veículos que a compõem possuem o mesmo alinhamento ideológico e expressam as linhas editoriais dos veículos. Além de ser prejudicial para a diversidade jornalística, pode ser um entrave para o alcance do jornalismo independente, que acaba preso dentro da rede de um público que normalmente já se engajaria pelas postagens.

O Social Monitor, utilizado para o Meio e Jota, não produz grafos e trabalha com outros tipos de dados. A ferramenta mostra os assuntos que estão em alta no Facebook, a quantidade de interações e comentários. Gera uma análise muito mais do engajamento do que uma análise de fatores mais profundos, como no caso anterior em que as bolhas foram detectadas. Segundo Daniela, o Social Monitor mostra o quê interessa ao público, sua função é diferente do Gephi.

Para Oswald, “o Facebook funciona de forma opaca”, ou seja, não se tem acesso a todas as informações e ao que eles fazem com elas de forma transparente. A conclusão encontrada pelos três pesquisadores é que precisa haver uma interdisciplinaridade na formação para que os dados possam ser cruzados, a análise melhorada e o futuro da comunicação digital continue obtendo resultados, gerando a transparência do que as informações realmente significam. Além disso, as ferramentas devem ser de fácil acesso, já que a Social Monitor é paga e o grupo de pesquisa precisou de financiamento para dar continuidade ao estudo que poderia ser impossibilitado por este motivo, contou em Daniela Osvald.

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