Efeitos colaterais de mudanças energéticas orienta pesquisa na USP

Objetivo é analisar possíveis cenários a partir de medidas que visam a redução de poluentes

Grande parte do calor antropogênico de São Paulo é emitido por veículos. Foto: Banco de Imagens da USP

Há um ano, a Câmara Municipal de São Paulo aprovou um projeto que prevê o fim da emissão de poluentes por ônibus em até 20 anos. A intenção é que a frota desse transporte público na cidade passe a ser elétrica. O Senado Federal também discute a tentativa de diminuir os carros movidos a combustíveis fósseis e o uso do biodiesel. Todas essas medidas envolvendo transporte e mobilidade urbana visam a mitigação dos efeitos de mudanças climáticas.

De toda forma, acabar com a utilização de combustíveis fósseis significa mudar a matriz energética para a elétrica, o que não resolve o problema. Isso porque seria necessário o aumento da energia de termoelétricas, que também realizam combustão. Desse modo, com a substituição do tipo de energia, a qualidade do ar poderia melhorar nas cidades em que o combustível é substituído – mas não nos lugares que recebem essas termoelétricas.

Devido a esses efeitos colaterais, é preciso avaliar cada cenário possível a partir das mudanças propostas. Pensando nisso, Flávia Ribeiro deu início a uma pesquisa com apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Junto a uma equipe interdisciplinar da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, a pesquisadora vai realizar uma série de simulações para verificar os cenários possíveis a partir de medidas tecnológicas, legislativas e de políticas públicas.

A pesquisa vai usar como caso a cidade de São Paulo, por ter níveis altos de poluição, o que acarreta em problemas respiratórios e cardiovasculares em seus habitantes. “Hoje, segundo levantamento de um grupo de pesquisa de micrometeorologia do Instituto de Astronomia, Geofísica da USP, o calor antropogênico em São Paulo é principalmente emitido pelos veículos, por causa da combustão”, explica Flávia.

Com o novo Governo Federal que se inicia em 2019, entretanto, as perspectivas quanto a questões ambientais são incertas. Esse é mais um dos motivos que tornam a avaliação dos possíveis quadros uma questão importante. “Um dos produtos finais que queremos é mostrar os benefícios e os efeitos colaterais de cada cenário para tentar melhor informar os tomadores de decisão, para então discutirmos políticas públicas”.

A perspectiva do Brasil sair do acordo de Paris também não é positiva para os pesquisadores. Segundo Flávia, isso demonstra uma baixa preocupação com as questões que o grupo trabalha. Por outro lado, existem questões econômicas que devem ser levadas em conta. A pesquisadora acredita que existem interesses de algumas indústrias em produzir veículos elétricos, então pode ser que a pauta de questões ambientais seja retomada. “Pode ser que a gente consiga que o resultado da pesquisa seja relevante, que os tomadores de decisão possam usufruir dos resultados. Então nós vamos continuar, apesar de não sabermos bem como será o cenário”, finaliza.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*