Pesquisa das Ciências Farmacêuticas da USP estuda microbiota de crianças prematuras

Comunidade de bactérias no corpo tem influência sobre sistema imune pelo resto da vida

Crédito: Lisa Johnson/ Shopify

O efeito benéfico do leite materno para recém-nascidos é muito conhecido. Agora, um projeto temático da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, apoiado pela Fapesp, pretende explorar o papel que esse leite tem na formação da chamada microbiota de crianças prematuras e abaixo do peso.

A microbiota é a comunidade de bactérias que vivem na pele e nas mucosas oral, nasal, urogenital e intestinal. Ela cumpre três funções no organismo: protege contra bactérias que causam doenças, ajuda a desenvolver a imunidade do corpo e fermenta carboidratos quando o organismo não é capaz de fazê-lo.

Segundo a professora da FCF que coordena o projeto, Carla Taddei, a microbiota tem grande importância e influência para as crianças: “Ela modula a saúde como um todo e responde a estímulos externos. Nos bebês, a microbiota chega a um ponto, ao redor dos dois anos, em que você não consegue mudá-la muito mais, só se houver uma mudança radical de dieta”. Sobre o aleitamento materno exclusivo, ela continua: “Se a criança toma apenas leite materno até o sexto mês, a microbiota tem um padrão constante. Se você dá qualquer outra coisa pra criança antes do sexto mês, não. Isso tem impacto no sistema imune da criança pelo resto da vida”. A pesquisa está avaliando o desenvolvimento da microbiota intestinal de crianças prematuras e abaixo do peso do Hospital Leonor Mendes de Barros (Hospital Amigo da Criança), pertencente à rede nacional de referência em Banco de Leite.

O principal objetivo, explica a professora, é entender como o consumo de leite materno modifica as bactérias da microbiota dessas crianças: “Nossa teoria é que ocorre uma regulação positiva, mas queremos compreender quais genes são ativados”. A partir disso, ela espera que o leite materno seja mais amplamente utilizado como tratamento paliativo para bebês em estado grave, no lugar dos chamados probióticos.

Os probióticos são bactérias vivas que tem efeito positivo no intestino e estão presentes em produtos conhecidos, como Activia e Yakult. A questão, aponta, Taddei é que essas crianças em estado frágil, muitas vezes tomando antibióticos fortes, podem ter resultados muito negativos com esse método: “Existem alguns casos tão graves que o probiótico vai para a corrente sanguínea, levando a uma infecção generalizada”.

Já o leite materno é chamado de simbiótico, pois contém tanto as bactérias probióticas quanto os carboidratos e fibras que elas precisam dentro do organismo, a parte prebiótica. “O leite da mãe é a coisa mais completa que o bebê pode consumir. Mostrando resultados científicos de como o leite regula a saúde dessas crianças, é possível usar isso como tratamento paliativo para bebês em estado grave e até tentar aumentar o nível de conscientização da importância do aleitamento exclusivo”.

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