Proteínas do pólen do cajueiro são identificadas como possíveis alérgenos

A caracterização inédita dos componentes poderá ajudar no diagnóstico e tratamento de alergias relacionadas à flor do caju

O cajueiro é uma planta originária do Brasil e muito presente no Nordeste. Foto: Neipies/Reprodução.

Pela primeira vez na história da literatura médica, um estudo analisou componentes com o potencial de causar alergia (alérgenos) a pessoas expostas ao pólen do cajueiro. A planta é originária do Brasil e está presente em abundância na região Nordeste, que é responsável por 95% da produção nacional. A pesquisa realizada no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP produziu um extrato do pólen do cajueiro e através dele pôde caracterizar, de forma inédita, novos possíveis alérgenos até então não conhecidos. Os resultados poderão facilitar o diagnóstico e tratamento de alergias causadas pela planta.

O estudo partiu através de relatos clínicos que relacionavam a floração do cajueiro com o aumento do número de episódios de alergia no Estado do Ceará, maior produtor de caju do país. A autora da pesquisa, Daniele Figo, explica que “há relatos médicos sobre pacientes que pioram os sintomas de rinite alérgica na época da floração da planta”. A partir disso, a pesquisadora passou investigar proteínas alérgenas presentes no pólen (gameta masculino presente nas angiospermas, plantas cujo as sementes são protegidas por frutos) do caju, o que a levou a encontrar as prováveis substâncias responsáveis pelos casos de alergia. “Identificamos proteínas semelhantes à alérgenos de outros pólens, o que pode representar novos alérgenos ainda não estudados”.

A pesquisadora explica que, “alergia é uma reação de hipersensibilidade causada por mecanismos imunológicos à um alérgeno específico. Primeiro acontece a fase de sensibilização, onde nosso corpo produz anticorpos da classe imunoglobulina E (IgE)”. Daniele prossegue ressaltando que “ao entrar em contato com o alérgeno, a pessoa é sensibilizada e pode nunca apresentar sintomas clínicos. Mas, em algum momento da vida, esses anticorpos previamente produzidos pelo nosso corpo (IgE) podem ser ativados ao entrar em contato com o alérgeno novamente, levando aos sintomas clínicos da alergia”.

No caso da alergia provocada pelas substâncias do pólen do cajueiro, os sintomas mais comuns são rinite alérgica, conjuntivite, asma e inflamações na pele. O estudo de Daniele acompanhou 24 pacientes do ambulatório de alergia da Universidade de Fortaleza: 12 com rinite alérgica persistente e cujos sintomas pioravam na época da floração do cajueiro, e 12 com a mesma doença mas que não demonstraram piora no período de floração.

Daniele comenta que, além do pólen do caju, existem outras doenças que também são causadas por pólens em épocas específicas do ano. A esse fenômeno se dá o nome de polinose: “A polinose é uma doença alérgica sazonal que acontece pela sensibilização do paciente à pólens de determinada planta. É caracterizada por sua periodicidade anual, acontecendo sempre na mesma época do ano”, explica.

A descoberta de novos componentes alérgenos é importante para a ciência porque é só através dela que se consegue tratar os sintomas clínicos de uma alergia específica. Daniele explica que, “a imunoterapia é a única forma de tratamento com potencial de cura. Ela tem por objetivo diminuir o grau de sensibilização das manifestações clínicas da doença nos pacientes”.

Mas, para que o tratamento da alergia ocorra (imunoterapia), é preciso conhecer as proteínas que a causam. Daniela ressalta que “o maior objetivo é identificar corretamente o alérgeno desencadeador dos sintomas para que os pacientes tenham o tratamento adequado”. A partir disso, o paciente é submetido ao contato gradual com o alérgeno, até não apresentar mais sintomas: “O tratamento é realizado com a administração do alérgeno ao qual o paciente reage, em doses crescentes, por um determinado período”, comenta.

A pesquisadora enfatiza a importância desse tipo de estudo, pois segundo ela “cada vez mais, têm sido relatados pacientes sensíveis a alérgenos ainda não caracterizados, e os extratos disponíveis para o tratamento específico (imunoterapia) muitas vezes são provenientes de outros países e podem não ser adequados para nossa realidade”. Daniele conclui alertando que “O Brasil é um país com diferentes características climáticas e rica biodiversidade, o que nos confere um perfil com variadas fontes alergênicas. É importante trabalharmos com alérgenos ainda não estudados a fim de otimizar o diagnóstico, o prognóstico e tratamento dos pacientes alérgicos”.

 

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