Cresce a importância do estudo das linguagens computacionais na escola

USP ganha programa de pós-graduação em culturas computacionais

"Na era das máquinas realmente inteligentes, das máquinas dotadas do que se convencionou chamar de inteligência artificial, a dependência humana da máquina é total", é o que diz José Teixeira Coelho sobre a relação do homem com as máquinas - Foto da Campus Party por Marcelo Camargo/Agência Brasil

“A humanidade é dependente das máquinas há muito tempo – e por “muito tempo” deve-se entender muito tempo mesmo. Há indícios do recurso à tecelagem desde o paleolítico e, no Egito, desde milênios”, é o que diz o professor José Teixeira Coelho Netto, coordenador do grupo de estudos Humanidades Computacionais. Para Teixeira, “sem a máquina há muito tempo não seria possível comer, vestir, manter vivas as pessoas, matar pessoas, aproximar pessoas, distanciar pessoas, tentar escapar de um planeta que se aproxima perigosamente de seu declínio”, por isso a importância do trabalho do grupo para apresentar uma proposta à Universidade de adequação de novas práticas de ensino e pesquisa.

Do grupo já saiu um ‘resultado prático’ na forma de um programa de pós-graduação em culturas computacionais aprovado pelos órgãos superiores da universidade e que em breve deve ser publicamente oferecido”, comenta o professor sobre os resultados do trabalho do grupo. Além disso, fala sobre a importância da atualização do ensino, visto o contexto atual da “era das máquinas inteligentes”: “a linguagem computacional é uma linguagem fundamental para o ser humano contemporâneo ao lado da linguagem verbal, esta com a qual nos comunicamos, e da linguagem visual do desenho, à qual tampouco se deu e se dá a importância devida”, Teixeira afirma que é importante que as próximas gerações não saibam apenas utilizar as ferramentas, mas criá-las “Crianças de dois anos, que ainda não leem e não escrevem, são, no entanto, capazes de manipular o celular e o iPad dos pais e acessar o conteúdo que desejam. Levá-las não apenas a acessar o conteúdo que lhes interessa, mas orientá-las a escrever os códigos computacionais que lhes permitirá a criação de novos conteúdos é essencial”.

Para o pesquisador, o Brasil não acompanhou o ritmo de outros países na aplicação dos recursos computacionais como auxiliares vitais do ensino contemporâneo e na introdução de novas gerações a linguagem computacional, “que não será uma linguagem do futuro, porque já é uma linguagem do presente, presente do qual o Brasil está distante”, segundo Teixeira Coelho. O professor ainda afirma que “essa [o ensino de códigos computacionais] deveria ser uma das missões centrais da escola, a partir do pré-primário e sem dúvida no segundo ciclo. Não é ainda nossa realidade. Não se trata apenas de capacitar as pessoas para compreender a linguagem fundamental destes dias: é uma questão estratégica de desenvolvimento do conhecimento científico e tecnológico sem o qual este país continuará dependente do que for gerado lá fora”. A Apple, empresa de multinacional norte-americana que comercializa produtos eletrônicos e softwares, tornou-se a primeira empresa a ter um valor de bolsa de um trilhão de dólares, o que praticamente a metade do PIB do Brasil em 2017 e é maior que PIBs de países como a Argentina e Suíça.

Segundo o professor, esse impacto vai ter consequências nos empregos também: “mais de 40% dos empregos atuais serão varridos do mapa nos próximos anos em países desenvolvidos, mais de 70 % no caso da China. Esse quadro deveria bastar para as autoridades deste país, a começar pelas responsáveis pelos rumos da educação despertarem para o fenômeno, elas que o ignoraram nas últimas seis décadas, qualquer que tenha sido a cor ideológica dos governos que se sucederam”.

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