Saúde sexual-reprodutiva é negligenciada pelos homens até os 45 anos

Grupo de estudos busca conscientizar a população a respeito dos riscos da falta de acompanhamento médico da área da andrologia

"O homem confunde o fato de ter eração e o fato de ejacular com ser fértil. Ele pode ejacular o sêmem e não ter espermatozóide, o que a gente chama de azoospermia, ou ter pouco espermatozóide, ou ser de má-qualidade", diz Hallak

A saúde reprodutiva masculina é cerceada por tabus e preconceitos que prejudicam a prevenção de quaisquer problemas que podem aparecer e prejudicar a fertilidade de um homem. “O homem só vai no médico quando tem algo muito estabelecido, uma doença”, afirma Jorge Hallak coordenador do Grupo de Estudos em Saúde Masculina do Instituto de Estudos Avançados da USP. “É difícil falar de prevenção ainda mais de coisas que não doem, como é a questão da infertilidade, porque o homem confunde o fato dele ter ereção e o fato de ejacular com ele ser fértil”. Hallak ainda complementa que o homem não sabe que usar maconha, junto com cigarro e álcool há muito tempo pode atrapalhar a fertilidade deles, pesquisas do grupo apontam que essas substâncias não são inócuas para o sistema sexual-reprodutor.

O grupo de estudos organizou, no dia 30 de novembro de 2018, um evento que propôs falar sobre os efeitos do álcool, drogas e anabolizantes esteróides na saúde do homem. “O evento é um marco. Primeiro porque ele foi feito em novembro e nós queremos fazer novembro azul não só para câncer de próstata” afirma Hallak. O grupo observou que 48% dos homens do brasil nunca foram no médico, e, em estados como o Mato Grosso, esse número chega a 75%. Segundo o pesquisador, o homem, quando deixa de ir ao pediatra, fica órfão de médico até os 45, 50 anos para o exame da próstata, e, ainda assim, só metade dos homens voltam ao consultório. A ideia é a de que esse hiato seja preenchido pelo andrologista, médico responsável pela saúde masculina, principalmente de funções sexuais-reprodutivas.

O professor comenta também que, em regiões menos industrializadas, os homens possuem uma maior saúde sexual-reprodutiva. O grupo fez um levantamento na região da Amazônia, no Amapá, onde tem 96% de área preservada, o que dificulta o acesso a alimentação processada na região, menos carne vermelha e uma dieta com muito peixe. A população masculina na região com 60, 70 anos possui função sexual praticamente igual a de um indivíduo de 36 anos.  “Isso não acontece no estado de São Paulo, isso não acontece na região Sudeste, ou em áreas industrializadas, mostrando que o hábito e o estilo de vida preservam a função sexual”.

Entretanto, a saúde sexual-reprodutiva do homem também pode sofrer alterações durante o período intra-ulterino. ” Os eventos as vezes são determinados quando ainda é um feto, a exposição da mãe para drogas, substâncias tóxicas, poluição atmosférica e alimentação incorreta pode influenciar, aquele homem a ter mais infertilidade, queda de testosterona, obesidade, câncer, diabetes”, de acordo com Jorge Hallak. O urologista também fala sobre o que ele denomina de “andrologia pré-natal”, que seria, por exemplo, orientar a mãe sobre drogas na gravidez, não apenas as ilícitas, mas medicamentos como anti-hipertensivos e tarja preta.

O Grupo de Estudos em Saúde Masculina tem como propósito, também, a conscientização da população masculina de diversas idades. A idéia é propor campanhas como a de auto-exame de testículo. De acordo com o professor não temos esse conceito no Brasil para checar a saúde sexual-reprodutiva do homem. Além disso, Jorge Hallak e o grupo pretendem desenvolver atividades com escolas para a conscientização em massa das informações: “Nossa ideia é envolver não só o aluno, mas os pais do aluno e a comunidade no entorno também, mostrando que isso tem impacto não só daquele momento mas para toda a vida adulta daquele aluno, a próxima etapa é como levar isso para o estado de São Paulo e para o Brasil”.

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