Astrofotografia desperta interesse em estudantes

Projeto desenvolvido por professor em Escola Técnica de São Paulo utiliza equipamentos de baixo custo

Alunos da Etec Prof Dr. Celso Giglio, onde o professor José Antonio do Amaral leciona e realizou o projeto. Créditos: José Antonio do Amaral

É comum o surgimento do interesse pelo assunto na infância ou na adolescência, mas acaba sendo pouco apresentado nas escolas, que transmitem o conhecimento como algo difícil e envolvendo questões pouco explicadas. Uma das possibilidades de aprendizado é a astrofotografia, uma categoria criada para caracterizar fotografias do céu noturno e de corpos celestes. A primeira fotografia do tipo foi um registro da Lua, em 1840, pelo fotógrafo e cientista John Willian Draper e, a partir daí, fotos registradas por câmeras, telescópios e smartphones abriram possibilidades de estudo sobre o Universo.

Daguerreótipo da Lua, em março de 1840, atribuída ao Dr. John William Draper. Imagem Original dos Arquivos da Universidade de Nova York.

Apesar disso, o ensino sobre o tema ainda é um desafio para os professores da rede pública e, por esse motivo, José Antonio do Amaral realizou um projeto para aplicar no Ensino Médio das escolas do Centro Paula Souza (responsável por administrar as Etecs e Fatecs de São Paulo), onde atua como professor. Utilizando câmeras simples, mas que fossem capazes de capturar as estrelas para estudo, e alinhando os conteúdos de astronomia presentes na grade do ensino médio dessas escolas com o projeto inicial, este foi então aplicado com os estudantes e compartilhado com os professores de outras disciplinas. É com esse projeto que José Antonio realizou sua dissertação de mestrado no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP com o título de “Astrofotografia como estratégia no ensino da astronomia“Na realidade, esse projeto surgiu em 2013 quando observava Saturno com um telescópio pequeno. Pensei em uma maneira de preservar aquela imagem e compartilhar com outras pessoas”, explicou o mestre.

Para desenvolver sua dissertação, passou pelo programa de Mestrado Profissional em Ensino de Astronomia (MPEA) no IAG, que forneceu todo o embasamento necessário ao desenvolvimento do projeto, através das disciplinas obrigatórias e optativas que foram desenvolvidas para que o aluno do mestrado adquira o conhecimento em astronomia, evitando que sejam utilizadas concepções incorretas sobre o tema em qualquer projeto. Durante dois anos e meio, com o apoio dos professores do departamento de astronomia do IAG e de seu orientador, Prof. Dr. Roberto da Costa, o projeto foi se aprimorando em suas diversas etapas e foi aplicado com os estudantes da Etec.

Além desse aprimoramento, houve atividades experimentais com os estudantes das Etecs, utilizando câmeras comuns e alguns instrumentos simples (binóculos, galileoscópio, etc.) reforçando os conteúdos de astronomia recomendados nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), diretrizes educacionais e que também compõem a grade do ensino médio, das disciplinas de Física e Geografia, nas escolas técnicas do Centro Paula Souza. Os dados obtidos através da intervenção serviram de auxílio teórico, e essas atividades serão adaptadas e disponibilizadas aos professores do Centro Paula Souza no formato de Ensino a Distância (EAD), com abrangência estadual. Isso permitirá que os docentes estudem a atividade com o tema de interesse para sua aula e posteriormente apliquem essa atividade com os seus alunos.

Alunos da ETEC Prof Dr. Celso Giglio observam eclipse parcial (no detalhe) durante o projeto, que serviu de base para o mestrado de Amaral. Créditos: José Antonio do Amaral.

A abordagem no ensino de astronomia nas escolas, utilizando como estratégia a astrofotografia, pode contribuir de muitas maneiras para o aprendizado, uma vez que a fotografia do céu noturno, permite que se “congele” aquela imagem para um estudo mais aprofundado. “É excelente para abordar vários conceitos, como por exemplo constelações, astronomia de posição, cores de estrelas, entre outros, permitindo o uso do laboratório natural o céu”, acrescenta João Antonio. No entanto, é necessário utilizar equipamentos simples e de baixo custo para atingir o maior número possível de alunos e pessoas interessadas. É possível utilizar técnicas de fácil aprendizado, funcionando como uma ferramenta de apoio e favorecendo o envolvimento de professores de diversas disciplinas (interdisciplinaridade) e estimulando o aprendizado e interesse dos alunos.

Máquinas fotográficas simples foram utilizadas para a realização das observações astronômicas, como a Sony Cybershot P 93, de apenas 5,1 megapixels. Créditos: João Antônio do Amaral

São escassos os trabalhos que utilizam a astrofotografia na educação, e por este motivo ela acaba sendo utilizada como uma ferramenta de apoio e não como único método para abordar ensino de astronomia: “Pesquisando a respeito, não encontrei trabalhos sobre astronomia, com uso da astrofotografia nas escolas. Encontrei alguns artigos na Revista Brasileira do Ensino de Física, que abordavam as técnicas para utilização de câmeras simples para estudo do céu noturno”.

O pesquisador ainda diz que o ensino da Astronomia é um desafio na educação brasileira porque envolve diversas questões como a estrutura dos equipamentos até o envolvimento dos professores: “interdisciplinar. Não se trata aqui de desinteresse pelo tema, mas de professores sobrecarregados pelo excesso de trabalho. Muitos enfrentam maratonas diárias de aulas em mais de uma escola, decorrente da baixa remuneração da categoria de um modo geral. Com o pouco tempo para participarem de atividades interdisciplinares e extracurriculares, os professores evitam se envolver em projetos que enriqueceriam o ensino”.

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