Criança com transtorno de atenção tem dificuldade na linguagem oral

Pesquisa avaliou a linguagem oral pragmática de crianças com TDA/H

Comprometimento na linguagem oral afeta o vínculo social de crianças. Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Pesquisa pioneira no Brasil avaliou a pragmática da linguagem oral em crianças com Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDA/H), ou seja, a maneira como a criança se expressa e se faz entendida.

O estudo concluiu que crianças que apresentam o transtorno têm comprometimento na linguagem oral e verbal, havendo dificuldade na conquista de vínculos e manutenção das habilidades sociais.

TDA/H é um transtorno neurobiológico que aparece na infância e pode acompanhar o indivíduo durante toda a sua vida. Segundo estudo de 2011 do Instituto Glia, 4,4% de crianças e adolescentes brasileiros entre 4 e 18 anos sofrem de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Crianças que têm o transtorno apresentam quadros clínicos de agitação, inquietação e desatenção.

O projeto foi desenvolvido por uma equipe multiprofissional, que conta com fonoaudiólogos, neuropediatras, neuropsiquiatras e psicólogos do ambulatório do Distúrbio do Aprendizado do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Segundo a autora e membro do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas, Neuza Botana, a pesquisa surgiu devido a constatação de muitas crianças com déficit de atenção que apresentavam problemas na linguagem oral.

“A gente verificou que esse ambulatório recebe muitas crianças com déficit de atenção. Nós começamos a observar que, além dessas crianças terem problemas de aprendizagem, elas também tinham problema de desenvolvimento adequado da linguagem oral, e o que precede o aprendizado é a linguagem oral. A criança que não fala adequadamente, futuramente vai ter comprometimentos na sua escrita”, explica a pesquisadora.

Foram analisadas crianças, entre 7 e 11 anos incompletos, com QI maior que 90 e que não apresentassem outros transtornos que pudessem interferir no teste ー como síndrome de Down, déficit sensorial ou transtornos do espectro autista ー através de uma avaliação de fonoaudiologia da linguagem infantil denominada ABFW, produzido por docentes de fonoaudiologia da USP.

A fonoaudióloga diz que só foi possível realizar o estudo com crianças já medicadas para o transtorno, pois já eram previamente remediadas no ambulatório. As crianças com TDA/H realizavam o teste oral durante o tratamento medicamentoso de curta ação e posteriormente, após 15 dias, sem o uso da medicação por 48 horas antes da testagem.

Foram feitas 60 avaliações em três grupos: 20 crianças com TDA/H medicadas, 20 crianças com TDA/H sem medicação e 20 crianças sem TDA/H. Com isso, notou-se uma melhora na pragmática da linguagem oral de crianças com TDA/H medicadas, porém a pesquisa indica que a melhora era apenas paliativa e não efetiva: quando a medicação era retirada, as crianças voltavam a apresentar os problemas de linguagem oral e verbal.

Botana diz que pretende continuar o projeto em pesquisa futura, quando irá avaliar crianças que apresentam TDA/H e transtornos do espectro autista (TEA). “O próximo passo é fazer isso no doutorado: uma comparação do déficit de atenção com o TEA, e verificar qual o perfil da metalinguagem dessas crianças.”

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