Investimento e impacto social: os dois lados de uma moeda

[Imagem: Thaislane Xavier - Agência Universitária de Notícias]

O mestrado profissional permite que seus alunos tragam, se quiserem, uma dificuldade vivida ao longo de suas carreiras para encontrar soluções na teoria. Pensando nisso, Liliane Sartorio desenvolveu sua dissertação Fatores de decisão em investimentos de impacto: um estudo sobre a relação risco, retorno e impacto. A ideia da pesquisadora era ver como os investidores que buscam impactar a sociedade de alguma forma olham para os problemas sociais e o que os leva a investir nesse setor.

Um negócio de impacto social é aquele que junta o que para muitos é impossível no mundo financeiro: melhorar um problema encontrado na sociedade colocando os beneficiados dentro da cadeia por meio da criação de empregos e gerar lucro para que o investidor use da maneira que achar mais adequada.

Esses empreendimentos são divididos em dois grandes grupos. O primeiro seria o de escala, o qual visa impactar o maior número de pessoas possível, mas não faz um acompanhamento detalhado. Já o outro, de profundidade, não costuma impactar tantos indivíduos. No entanto, supervisiona as mudanças geradas em cada um de maneira mais próxima.

“Há muito material e pouco consenso sobre o tema”, afirma a pesquisadora. Mas entre esse pouco consenso é certo que as transformações geradas pelo empreendimento devem ser propositais e não mero acaso. Além disso, para investir em empresas com a visão de mudar a sociedade é necessário o mesmo profissionalismo e seriedade que exige qualquer outro empreendimento.

No Brasil, essa área ainda é muito pouco desenvolvida e há um receio dos investidores quanto a correr grandes riscos. “Como é uma indústria nova, poucos negócios deram certo e finalizaram todo o ciclo necessário. Isso gera certo receio em novos empreendedores”, continua a pesquisadora.

Diagrama de Venn resumindo o que é um investimento de impacto social [Imagem: Thaislane Xavier – Agência Universitária de Notícias]
Outro problema enfrentado é que os riscos corridos não são apenas financeiros, como mostrado na dissertação: quem investe na área pode não ter retorno financeiro e tampouco social. Ambos ocupam igualmente as preocupações dos empresários.

Leonardo França, colega de classe de Sartorio e fundador da Kunla — empresa que contrata mães desempregadas para um homeoffice, permitindo que essas trabalhem e cuidem de seus filhos — foi um desses poucos investidores que tiveram coragem de se arriscar, colocando o impactado dentro da sua cadeia produtiva,  e começa a ver seu negócio dar certo cerca de dois anos após o início.

Em sua dissertação, França buscou um equilíbrio entre o pesquisador, com muita base teórica, e o empreendedor, o qual sabe que na prática as coisas funcionam de uma maneira bem diferente. “Na pesquisa, é feito um recorte da realidade, mas na vida não há esse recorte e outros problemas, até então não imaginados, surgem”.

Ele viveu bem essa situação. Sua empresa visa, atualmente, captar mulheres com filhos em idade não escolar, torná-las capazes de fazer recrutamento e seleção e, assim, conseguir novas vagas para que elas trabalhem em casa. No papel a ideia é linda, porém, no início alguns empecilhos, como imaginar que elas não precisavam de capacitação para uma tarefa aparentemente simples, e muita procura para poucas vagas, se tornaram verdadeiros pesadelos na vida do pesquisador.

O fundador da Kunla explica que começar um negócio do zero e tentar implementar um modelo inovador não é nada fácil e, assim como qualquer outro investimento, passa por um ciclo de desenvolvimento até começar a se ver retornos de fato. “Se fala muito em inovação tecnológica e científica, mas é possível pensar diferente em diversos outros aspectos, inclusive inovação de processos”.

França vai de acordo com o resultado da pesquisa de Sartoria, buscando equilíbrio entre ter retorno e mudar a sociedade de alguma forma. Ele e outros investidores provam que é possível gerar lucros e transformar a realidade de muitas pessoas. Para isso, é necessário um pingo de criatividade, muita força de vontade, profissionalismo e, acima de tudo, disposição para errar e começar de novo.

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