Prática de exercícios físicos evita a perda dos benefícios proporcionados pela cirurgia bariátrica

Estudo comprova a importância de mudança de estilo de vida após a operação

Programa de atividades físicas impede a perda dos benefícios assegurados pela cirurgia bariátrica. Imagem: Cecília Bastos / USP Imagens

A cirurgia bariátrica promove uma série de benefícios para o corpo de quem necessita a operação. Além da perda de peso, está relacionada a melhora nos sistemas cardíacos e respiratórios. Contudo, tudo isso pode facilmente ser revertido caso não ocorra uma mudança no estilo de vida da pessoa, tanto na parte da alimentação quanto na prática de exercícios físicos. Pela primeira vez, em uma pesquisa realizada pelo Grupo de Pesquisa em Fisiologia Aplicada e Nutrição, comprovou-se que a prática de exercícios físicos impede a reversão dos benefícios da cirurgia bariátrica.

O professor Hamilton Roschel, um dos coordenadores do estudo, destacou que “a obesidade mórbida é um problema de saúde importante, e a forma mais efetiva de induzir alteração de massa corporal nestes indivíduos é a cirurgia bariátrica”. O professor também relembrou que o procedimento tem seus efeitos adversos, como por exemplo a perda de massa óssea e muscular, e por isso a importância da prática de atividades físicas.

O estudo utilizou 30 mulheres de 25 a 55 anos, que não tinham feito exercícios no último ano, com índice de massa corporal menor que 40kg/m² (medida utilizada para calcular o IMC), hemoglobina glicosada menor que 10% (mede níveis de glicemia) e nenhuma contraindicação para a participação de exercícios. O professor ressaltou que a escolha por apenas mulheres foi por uma questão técnica de aparelhos, e que “não há por que se imaginar que deve haver uma diferença de resposta sexo-dependente”.

Os pacientes passaram pela cirurgia bariátrica e três meses depois foram reavaliados, período em que foram liberados para a prática de exercícios físicos. A partir de então seguiram-se seis meses de intervenção, sendo formados dois grupos de 15 pessoas: um grupo controle, que não praticou exercícios, e outro que passou por um programa supervisionado de atividades físicas. Assim, ocorreram três períodos de medição de dados, um pré cirurgia, outro após a operação e por fim outro após os seis meses de atividades físicas.

Nove meses após o início da pesquisa, ambos os grupos apresentaram uma perda de peso semelhante, o que é esperado para quem passa por este procedimento. Contudo, quando os pesquisadores analisaram outros indicadores, perceberam que haviam muitas diferenças que não estavam tão aparentes.

O primeiro indicador observado foi a interleucina TNF – α, que diz respeito ao quadro inflamatório do indivíduo. Hamilton Roschel explicou que “a obesidade é acompanhada por um estado de inflamação de baixo grau. Este quadro gera alterações como esclerose e resistência à insulina”.

No estudo, todos os pacientes tiveram uma redução dos índices de TNF – α após três meses, algo esperado após a cirurgia bariátrica. Porém, ao analisar o mesmo indicador seis meses depois do programa de atividades físicas controladas, o grupo controle teve um enorme retrocesso, enquanto que no grupo que praticou exercícios os números melhoraram ainda mais.

A área embaixo da curva de insulina foi outro indicador utilizado pelos pesquisadores. Os dados para este indicador foram coletados através de um teste de tolerância oral à glicose, no qual a pessoa ingere uma solução com alta quantidade da substância e a partir daí monitora-se tanto este açúcar como a insulina.

Antes da operação, ambos os grupos possuíam alta insulinemia, que pode causar diabetes. Após a cirurgia bariátrica, houve uma esperada redução do indicador em ambos os grupos, e, assim como ocorrido no primeiro indicador, após os seis meses de atividades físicas, os números continuaram a melhorar, enquanto que no grupo controle a insulinemia voltou a subir.

Por fim, o último indicador analisado trazia dados sobre a função endotelial dos pacientes. A função endotelial é uma medida interessante tanto para a saúde cardiovascular quanto para a resistência à insulina. Assim como nos dois primeiros critérios, houve uma melhora logo após a cirurgia em ambos os grupos, seguida de uma melhora ainda maior no grupo que praticou atividades físicas e um retrocesso no grupo controle.

Gráfico comparando os indicadores do grupo controle (esquerda) e do grupo que praticou atividades físicas(direita). Nota-se que ambos perderam massa corporal, mas o grupo controle teve uma regressão nos outros índices enquanto o grupo que praticou atividades físicas continuou melhorando seus dados. Imagem: Journal of the American College of Cardiology, artigo “Reversal of Improved Endothelial Function After Bariatric Surgery Is Mitigated by Exercise Training”.

Para Roschel, a principal surpresa nos resultados foi a de que os exercícios físicos não apenas evitam o retrocesso do procedimento cirúrgico, mas também amplificam os benefícios proporcionados. “Não só o programa de exercícios se sobrepõe aos efeitos positivos da cirurgia, como ele minimiza os efeitos negativos e preserva os benefícios em longo prazo”.

O professor ainda destacou que os dados podem ter sido agravados pela baixa condição do sistema de saúde pública brasileiro. “O sistema público não absorve esse pessoal, não há uma estrutura de saúde pública suficiente para abraçar essas pessoas. Nos países mais desenvolvidos essa situação é diferente, e o grau de escolaridade e compreensão das responsabilidades após a cirurgia são menos ignorados”, alertou.

Os médicos também têm um papel importante para que os pacientes entendam a importância de uma mudança de estilo de vida após a cirurgia bariátrica. “Em 40% a 50% dos casos há reganho de peso, o que demonstra que a cirurgia, por si só, é incapaz de resolver o problema dessas pessoas”, destacou Roschel.

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