Nuvens baixas influenciam o clima de São Paulo

Análise de dados constatou incrementos de radiação solar em estratiformes

Nuvens. Créditos: Rodrigo da Silva

Com a questão do aquecimento global e do panorama climático, o pesquisador Jorge Rosas Santana, em sua dissertação de mestrado, orientado pela professora Márcia Akemi do departamento de Ciências Atmosféricas do IAG – USP, analisou dados de cobertura de nuvens a partir de observações visuais dos últimos 60 anos em São Paulo, além de calcular os efeitos instantâneos das mesmas no balanço de radiação solar em superfície. Jorge já havia comentado anteriormente que as nuvens influenciam na radiação solar e agora surge um novo questionamento acerca do assunto: como elas influenciam no clima da cidade?

Com os resultados obtidos, foi encontrado o efeito enhancement em superfície (incrementos da radiação solar ) de até 20 minutos, que pode acontecer para quaisquer tipo de nuvem, mas com maior efeito em presença nuvens baixas fragmentadas. E também foi observado um incremento das nuvens baixas, especialmente as estratiformes em São Paulo, porém a cobertura total de nuvens não teve tendências significativas nos últimos 60 anos. Ou seja, sua quantidade não altera o clima, mas sim a radiação concentrada.

Em regiões com grandes emissões de poluentes e pouca vegetação, as nuvens podem sofrer mudanças nas suas propriedades microfísicas, mudando a influência exercida sobre o balanço de radiação, provocando alterações no caso do espectro solar nos processos mostrados abaixo:

Arte: Beatriz Cristina

“São Paulo é uma região com uma característica peculiar: alta poluição, com uma alta carga de aerossóis. Essa mancha urbana que se expandiu e continua se expandindo tem uma influência na mudança da circulação local e isso poderia levar também a variações nas características das nuvens. Então, isso quando se junta é um tema bem interessante para analisar especificamente as nuvens em São Paulo” conta Jorge.

Detalhe de árvores em primeiro plano e ao fundo vista da poluição na cidade de São Paulo. Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Para realizar o estudo, Jorge utilizou produtos de satélites de órbita polar, da Estação Meteorológica do IAG, no bairro da Água Funda, em São Paulo, instrumentos de medição da radiação, câmera de nuvens a dados de Lidar (radar de laser) do Centro de laser e aplicações do IPEN (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares) e um modelo de transferência radiativa, com o qual os fluxos radiativos instantâneos foram estimados :

“Nesse tipo de estação meteorológica que temos em São Paulo, na Água Funda, as nuvens tanto  em níveis médios, altos e baixos são reportadas por profissionais bem treinados. É uma estação que tem essa vantagem e com isso conseguimos analisar por tipo de nuvem; o que está acontecendo com as nuvens nos últimos 60 anos”, explica.

Das medições de radiação em superfície, Jorge conseguiu calcular as propriedades óticas das nuvens e também o efeito que elas têm no fluxo de radiação solar, ou seja, quanto de radiação deixa de chegar ao solo em presença de uma nuvem obstruindo o sol.

Tabela acima mostra os diferentes tipos de nuvens existentes. Créditos: IAG-USP

 

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