“Qualquer perturbação pode causar desabamento”, diz especialista sobre Barão de Cocais

Rompimento da barragem de Brumadinho (MG), em janeiro de 2019 - Foto: Isac Nóbrega/PR via Fotos Públicas

A recente tragédia de Brumadinho, junto ao mais velho desastre de Mariana, levantou a atenção não apenas do Governo e da Defesa Civil, mas também da comunidade científica. Pesquisadores estão em constante monitoramento da situação de outras barragens com risco de desabamento. A principal delas, a Barragem da mina Gongo Soco, no município de Barão de Cocais, MG, está em alerta máximo de rompimento, o que segundo especialistas, pode acontecer a qualquer momento.

O professor e pesquisador Edilson Pizzato, do Instituto de Geociências (IGc) da USP, comenta sobre a situação: “Em Barão de Cocais temos um diferencial, o talude”. Pizzato se refere ao talude da mina, um depósito de rejeito sólido que se movimenta em velocidade constante diariamente. “A Defesa Civil está dando muita atenção para Barão de Cocais. Se há a preocupação de que um desabamento do talude cause um rompimento, é porque qualquer perturbação pode causar um rompimento na barragem”.

O pesquisador explica o porquê dos desabamentos de barragem terem se tornado tão comuns no cenário nacional: “O problema é que a barragem é um passivo econômico, é uma fonte de gastos, o que leva a serem construídas de forma precária. Então todas têm um grau de insegurança”. Pizzato comenta sobre a relação entre o mercado da mineração e a construção das barragens, e como “quando o preço do minério sobe, acelera a produção. Quanto mais rápido é a mineração, mais cresce a barragem. A construção rápida com pouco planejamento aumenta esse risco.”

Para o professor, no entanto, a situação de Barão de Cocais se mostra melhor que suas antecessoras. “A Defesa Civil vem acompanhando a situação, há um plano para caso desabe, uma medida de prevenção. Se acontecer, o tamanho do desastre é grande, mas o acompanhamento já é maior que as outras”. Pizzato ressalta, porém, que mesmo sem perdas humanas, um desabamento de barragem ainda causa grande destruição ambiental. “Se perdem ecossistemas ribeirinhos, águas dos rios, córregos. Muita gente tira seu sustento disso.” Relembrando o rompimento de barragem em Miraí, MG, o pesquisador comenta: “Não houve mortes, mas era uma barragem de bauxita, que polui muito mais. Quase não foi comentado, e se esqueceu bem rápido. Só não esquece quem foi prejudicado”.

Segundo Pizzato, que faz parte do Centro de Estudos e Pesquisas sobre Desastres, o Ceped, algumas razões para os desabamentos em Mariana e Brumadinho, e para os problemas que levaram à situação em Barão de Cocais foram a “má execução do projeto, má monitoração, equipamentos não funcionais e a ultrapassagem do limite de tamanho da barragem”. Para o pesquisador, o maior problema foi a falta do “as-built”, uma representação gráfica do projeto finalizado. “Sem o as-built não tem como saber que problemas o projeto apresentou. Isso junto à pressa para finalizar o processo causa uma falta de controle da situação.”

Preparando o futuro

Segundo Pizzato, não há o que fazer sobre as barragens já construídas além de se preparar para um possível desastre, caso haja risco. “Temos que ser pessimistas, e considerar que se pode acontecer, vai acontecer”. É possível, no entanto, impedir que esses desastres se repitam em represas sendo construídas agora. “Essa preocupação é recente, a primeira legislação sobre barragens é de 2012”.

O pesquisador explica que medidas podem ser tomadas para prevenir desabamentos: “É possível relavrar os rejeitos, fazer uma barragem de resíduo seco, que é o mesmo sistema, mas sem água, por meio da separação dos resíduos. Dá para filtrar por meio da prensagem, e também fazer um empilhamento drenado, gerando um talude ao invés de barragem”. O professor dá também alternativas mais modernas e sustentáveis. “Pode se fazer a reciclagem desse resíduo, transformar em tijolos, material de construção, concreto, pavimentação”. O problema com esse método, porém, seria a logística, “As barragens ficam em áreas afastadas, e mais de 100km de frete é inviável para as empresas”, como solução, Pizzato apresenta a pesquisa: “Tem que ter recursos, só se barateia esses métodos com estudo e pesquisa”.

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