Professores de educação física marcam carreira de atletas olímpicos

Esportistas destacam a importância de seus professores na trajetória de suas vidas

Relação entre professor e atleta se assemelha a de mestre e discípulo. Imagem: Moira Paula - INSG/Castelo

Os atletas olímpicos brasileiros normalmente descobrem o esporte na escola, e têm em seus professores uma fonte de inspiração. Um estudo feito pela pesquisadora da Escola de Educação Física e Esporte da USP (EEFE), Maria Alice Zimmermann, analisou depoimentos de atletas olímpicos feitos para o Grupo de Estudos Olímpicos, a fim de estudar sua relação com seus professores de educação física.

Escutando os depoimentos, Maria Alice afirma que “ eles falavam espontaneamente do professor e da importância que tiveram na carreira e na descoberta do esporte como possibilidade de vida”. Em nenhum momento houve qualquer tipo de pergunta aos atletas sobre seus professores ou quem havia sido importante na construção de suas carreiras.

Ao analisar as narrativas, foi possível observar o apreço que os atletas possuíam por aqueles que os introduziram ao esporte. “A gente tem a suposição de que o professor é um sujeito passageiro nas nossas vidas, mas, quando começamos a trabalhar com as narrativas, ele aparece lá com nome e sobrenome”, diz Katia Rubio, professora da EEFE e orientadora do estudo.

A pesquisadora também analisou o depoimento de João Batista, professor que orientou seis medalhistas olímpicos, no qual foi possível perceber que o profissional não tinha a ambição de formar atletas. “Ele diz não ter feito nada menos do que sua obrigação. Na narrativa dos atletas, aparece que ele era um cara totalmente dedicado e estudioso”, explica Maria Alice. 

Renan Dal Zotto, atual técnico da seleção brasileira masculina de voleibol, foi um dos atletas olímpicos que ressaltou a importância de João Batista, que fora seu professor de educação física. Em seu depoimento, ele conta que, quando jovem, se interessava muito mais pelo futebol, como a maioria das crianças brasileiras, e ressalta a persistência de João para convencê-lo a treinar voleibol.

Outro atleta olímpico que teve grande sucesso e também possui uma forte relação com João Batista é Paulo André Jukoski da Silva, voleibolista mais conhecido como Paulão. “O professor era um cara que não só identificava a habilidade do aluno, mas também viabilizava a escolha. O Paulão, por exemplo, era um cara que quase parou porque a mãe falou que não tinha mais dinheiro para pagar a condução, e o professor tirou o dinheiro do bolso dele para ajudar o menino”, afirma Katia Rubio. Maria Alice ainda completa dizendo que “a entrevista do Paulão é uma das mais emotivas. Ele fala que tudo na vida dele teve continuidade por conta do professor que acreditou nele”.

Os depoimentos também destacam os professores não apenas como formadores de atletas, mas também como construtores de pessoas. A relação se assemelha muito com a de mestre e discípulo, que, para Katia, “é uma relação mais do que formal, ela é mítica. Quando você pega exemplos na mitologia, ela se multiplica numa ação do discípulo de gratidão e reconhecimento, que transforma a relação humana de uma forma geral”.

Por fim, outra trajetória analisada pela pesquisa é a de Joaquim Cruz, medalhista de ouro no atletismo nas Olimpíadas de 1984. Quando jovem, tinha a ambição de jogar basquete nos Estados Unidos, e, por conta de uma brincadeira de um colega, acabou participando de uma competição de atletismo. O professor então consegue convencê-lo a treinar a modalidade, e os dois vão para os Estados Unidos, onde Joaquim desponta.

Maria Alice explicou que “a relação deles perdura 20 anos, e é diferente do outro professor, que fica apenas na iniciação e encaminha para o alto rendimento. Na do Joaquim, tem a vivência desde a escola até o mundo olímpico”. O diferencial deste caso, de acordo com Katia Rubio, é o fato de que “é muito raro você ver um professor de escola que cresce junto com o atleta e se torna um técnico de ponta internacional. Você vê o atleta que ascende e vai puxando o técnico junto, é um puxando o outro.”

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*