Ativação de linfócitos B promove ação antitumoral

Procedimento experimental também buscou entender como tumores regulam o sistema imunológico

Foto: Pixabay

O câncer é uma doença crônica que pode demorar muito tempo para se desenvolver. Em teoria, o organismo de uma pessoa doente deveria reconhecer o tumor e tentar eliminá-lo. Entretanto, as células tumorais possuem diversos mecanismos para escapar do sistema imunológico. Entender como tal dinâmica funciona é essencial para se pensar em formas de interferir no processo. E este foi um dos princípios do estudo desenvolvido por Ana Paula Lepique, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, que teve por objetivo aplicar linfócitos B ativados para o combate de tumores causados pelo câncer de colo do útero.  

Pesquisas anteriores indicaram que as células do sistema imune que apresentam resposta mais rápida, chamadas de mieloides, eram as mais afetadas pelo câncer. Em função disso, o foco do trabalho foram as células de resposta mais lenta, conhecidas como linfoides, já que apresentaram perspectivas de uma atividade melhor. O destaque foi para os linfócitos B, que também já haviam demonstrado maior resistência ao mecanismo de escape dos tumores. 

O linfócito B foi potencializado e utilizado para apresentar a outro linfócito, do tipo T, a existência do tumor. Os linfócitos T são células potentes e excelentes para fazer uma resposta contra o câncer. Entretanto eles não são capazes de perceber, sozinhos, a existência do tumor. “Eles precisam que alguma outra célula, também do sistema imune, apresente moléculas ou pequenos fragmentos moleculares para eles e isso precisa vir como uma indicação de sinal de perigo”, explica Ana Paula.

Os testes foram realizados em modelo experimental com camundongos. Primeiramente, células tumorais eram aplicadas nos animais através de uma injeção subcutânea. Após a formação do tumor, eles eram sacrificados e os órgãos linfoides (linfonodos e baço), onde ocorre a ativação de respostas imunes, eram retirados. Então foram separados os linfócitos B e os linfócitos T. Em laboratório, os linfócitos do tipo B eram estimulados através do fornecimento de uma molécula, a CD40 ligante. Esse estímulo teve por objetivo aumentar a eficácia do linfócito B, “que passa a apresentar os fragmentos de tumor de forma muito mais eficiente para o linfócito T”, explica a pesquisadora. A etapa final consistiu na mistura dos linfócitos B e T, aplicação em outros camundongos com tumor que não possuíam nenhuma dessas células e acompanhamento do crescimento da doença.  

Os resultados foram muito positivos. “Essas duas células juntas [linfócitos B e T] conseguem inibir o crescimento tumoral”, conta Ana Paula. A pesquisadora ressaltou que esse procedimento só funciona se os linfócitos T já tiverem visto o tumor anteriormente. Justamente por isso que essas células são retiradas de um camundongo que já tinha sido exposto ao câncer.

No Brasil ainda há prevalência do câncer de colo de útero. Mesmo com as estratégias vacinais, a doença se mantém como problema de saúde pública. “Há necessidade de corrermos atrás de potenciais alternativas de tratamento”, diz a pesquisadora. O estudo tem grande capacidade para ser aplicado para outros tipos de câncer e uma das perspectivas futuras é o avanço para os testes em humanos. 

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