Dança traz mais benefícios para crianças do que se pensava

A dança é uma forma de brincadeira que reflete em ações do dia a dia. Foto: Deborah Calácia.

Psicomotricidade. A palavra assusta, mas é uma área de estudo que busca compreender o ser humano no âmbito físico, social e emocional. “A ciência da psicomotricidade é baseada no movimento, como o ser humano interage e aprende através dele ”, conta Isabelle de Vasconcellos Correa dos Anjos, mestre pela Faculdade de Medicina na Universidade de São Paulo.

Dançarina de formação e conhecedora do estudo da psicomotricidade, dava aulas de artes para crianças em um colégio particular da cidade, onde surgiu a ideia para sua tese. “Me perguntavam como meus alunos sabiam ler com tanta fluência com 4, 5 anos de idade. Imaginava que era por causa do colégio ser muito bom, mas fui investigar”, disse. 

O principal expoente do estudo do movimento somado à psique foi Rudolf Laban, um estudioso do movimento humano e criador da Coreologia (uma análise do movimento por meio da dança). Sua teoria é aperfeiçoada até o presente momento, manifestando-se em diferentes vertentes, dentre elas, a da dança-educativa. 

No início, os dois grupos (um no qual se praticava a dança educativa e um de controle) apresentavam a mesma defasagem motora para sua idade (cerca de 36% a 45% do que é esperado). Era como se as crianças tivessem dez meses a menos de idade motora. Após sete meses da prática, o grupo que praticou a dança educativa teve um avanço de nove meses; enquanto o índice de desenvolvimento motor, dado pelo quociente motor (uma divisão de Idade Motora por Idade Cronológica), estava em níveis normais para a idade. 

A dança educativa é composta por dois aspectos principais: por não ter passos definidos como na maioria dos estilos de dança (balé, jazz, etc), a criança tem que experimentar o próprio corpo, peso, equilíbrio e os movimentos mais confortáveis; e, justamente por isso, outro ponto positivo é a observação do outro e de sua criação. Com isso, as crianças se afastam de um problema comum nessa idade: a defasagem do desenvolvimento motor. 

Com um maior tempo sentados em cadeiras (que aparecem a partir dos 6 anos) e brincadeiras mais ligadas ao uso do celular, elas tendem a perder mobilidade e alongamento. A introdução da dança enquanto atividade curricular consegue reverter esse quadro e reflete tanto na motricidade global (relacionada ao movimento com uso de múltiplas partes do corpo) quanto na motricidade fina (relacionada ao movimento das mãos). 

Uma das práticas, por exemplo, para crianças que não conseguem escrever dentro da linha, pela letra ser muito grande, é praticar movimentos de expansão e recolhimento. “Treinar uma letra nova, que caiba na linha, não resolve o problema global da criança”, diz Isabelle. Outro exemplo é um jogo parecido com “dança das cadeiras”: enquanto toca a música, todos podem fazer movimentos variados e, na pausa, é dado um comando e apenas uma parte do corpo pode se mover.

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