Experiência com polícia impacta legitimidade da instituição

Pesquisa verifica percepções que podem ser explicadas pelo contato com cidadão

Uma das formas de experienciar contato com a polícia é a abordagem. Foto: Christopher Schmidt/Flickr

Existem basicamente duas formas de você interagir com a polícia – ou você a procura, ou é parado por ela. O quanto essa experiência de contato pode impactar na construção da confiança e legitimidade da polícia como instituição foi o cerne da pesquisa de doutorado de Frederico Castelo Branco Teixeira. Pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da USP, defendeu sua tese recentemente no departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras, e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

Ele explica que o objeto da pesquisa foi uma grande pesquisa de opinião encomendada pelo NEV e aplicada pelo IBOPE. Com dados de 2015 coletados na cidade de São Paulo, Teixeira buscou analisar como variaram as percepções de contato, as visões e a relação dos cidadãos com a polícia. “Não é uma avaliação do contato em si – se foi bom ou não. É uma verificação do quanto a experiência pode explicar ou não outras percepções sobre a instituição”, explica.

A pesquisa em si

O trabalho estatístico começou a partir de uma divisão básica entre as duas formas de contato. Quando a pessoa procura a polícia temos um “contato iniciado”. Já quando a pessoa é interpelada por algum agente, classifica-se como “abordagem”. Cada uma delas poderia ser classificada como experiência positiva ou negativa.

“A separação entre os contatos positivos e negativos se dava através de algumas perguntas que operacionalizamos”. No caso dos “contatos iniciados”, era preenchido um breve questionário sobre o tratamento recebido, atenção dada às informações fornecidas e satisfação quanto à explicação das providências que seriam tomadas. Já para as “abordagens”, a mesma quantidade de perguntas trazia tópicos como a clareza dos motivos da abordagem, educação e forma de tratamento, e atenção às informações cedidas. Todas as perguntas eram referentes à última experiência do entrevistado com a polícia.

O especialista comenta que o modelo teórico construído analisava como as experiências com a polícia se relacionavam com três conceitos. Esses, por sua vez, constroem a ideia da legitimidade policial. O primeiro conceito posto foi o de “Justiça Procedimental”, que diz respeito à percepção da qualidade do processo de tomada de decisão pela polícia e do tratamento dado. O segundo foi a “Legalidade”, isto é, o entendimento de que a polícia age de acordo com as leis. Finalmente, foi analisada a percepção de que a polícia cumpre aquilo que se espera dela – conceituada como “Eficácia”.

O que se tira de tudo isso?

Para Teixeira, sua pesquisa expõe algumas discrepâncias de como as experiências afetam a legitimidade policial. Enquanto contatos negativos têm um peso muito grande e minam a imagem da instituição, experiências positivas não conseguem recuperar a legitimidade na mesma proporção. “Se você tem uma experiência de contato negativa com a polícia, a legitimidade não é recuperada com algumas experiências positivas”, complementa.
O resultado final passa pela discussão sobre a importância da legitimidade para que a sociedade coopere e cumpra as leis. Isto posto, a partir do momento em que as percepções obtidas em experiências diretas com a polícia interferem nessa legitimidade, é necessária a reflexão sobre o desempenho policial e suas interações com os cidadãos.
É assim que Teixeira conclui o texto da tese em si. Não basta avaliar a polícia com base em sua produtividade, como número de flagrantes ou recuperação objetos furtados. ”Ainda que sejam medidas objetivas, é evidente – dada a natureza da atividade policial, que elas não são suficientes para uma abordagem compreensiva da polícia na democracia”, conclui.

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